19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Chris.<br />

─ Está vendo aqueles choupos? Aqueles bem eretos? Ali na<br />

bor<strong>da</strong>? ─ pergunto eu, apontando a direção. ─ Corte-os uns trinta<br />

centímetros acima do solo.<br />

─ Por quê?<br />

─ Vamos precisar; servirão <strong>de</strong> apoio na escala<strong>da</strong> e <strong>de</strong> mastros<br />

para as ten<strong>da</strong>s.<br />

Chris pega o facão, começa a levantar-se, mas logo senta-se<br />

novamente.<br />

─ Corta você ─ diz ele.<br />

Apanho o facão, vou até a bor<strong>da</strong> e corto as varas. Corto-as<br />

sem dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> um golpe só, exceto pela última casca do tronco,<br />

que arranco com o gancho do facão. Nas pedras a gente vai<br />

precisar <strong>de</strong> varas para se equilibrar, e os pinheiros <strong>de</strong> lá não servem<br />

para improvisar bengalas. Estes são os últimos choupos que<br />

estamos vendo. Entretanto, começo a me preocupar com a indisposição<br />

<strong>de</strong> Chris para o trabalho. Isso não é bom sinal quando se está<br />

escalando uma montanha.<br />

Depois <strong>de</strong> um breve repouso, continuamos. Vamos levar algum<br />

tempo para nos acostumarmos ao peso <strong>da</strong> carga. A reação<br />

ao peso é negativa. Mas, à medi<strong>da</strong> que prosseguimos, vamos nos<br />

acostumando...<br />

Aquela idéia <strong>de</strong> abolir a avaliação por notas ou conceitos <strong>de</strong>sorientou<br />

a maior p<strong>arte</strong> dos alunos, produzindo uma reação negativa,<br />

pois parecia, em princípio, querer <strong>de</strong>struir todo o sistema universitário.<br />

Uma <strong>da</strong>s alunas expôs esse receio <strong>de</strong> maneira bastante<br />

objetiva e franca:<br />

─ Claro que o senhor não po<strong>de</strong> eliminar as notas. Afinal <strong>de</strong><br />

contas, é por elas que estamos aqui.<br />

Ela dizia a pura ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. A idéia <strong>de</strong> que a maior p<strong>arte</strong> dos<br />

estu<strong>da</strong>ntes vai para a universi<strong>da</strong><strong>de</strong> só para se educar, sem pensar<br />

em notas e conceitos é uma mentira inocente, que a maioria <strong>da</strong>s<br />

pessoas prefere não admitir. Uma vez na vi<strong>da</strong>, outra na morte, aparecem<br />

alunos que preten<strong>de</strong>m adquirir conhecimentos, mas a rotina<br />

e a natureza mecânica <strong>da</strong> instituição logo os transformam em seres<br />

menos i<strong>de</strong>alistas.<br />

A amostra era um argumento a favor <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> que a eliminação<br />

<strong>da</strong>s notas e conceitos acabaria com essa hipocrisia to<strong>da</strong>. Em<br />

vez <strong>de</strong> li<strong>da</strong>r com generali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, li<strong>da</strong>va com a trajetória específica <strong>de</strong><br />

um estu<strong>da</strong>nte imaginário que representava, aproxima<strong>da</strong>mente, os<br />

196

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!