19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

fessor, mas aí outro aluno disse, praticamente interrompendo-o:<br />

─ Eu acho que aqui há algumas <strong>de</strong>clarações bastante ambíguas.<br />

Foi tudo que ele conseguiu dizer.<br />

─ Meu caro, nós não estamos aqui para saber o que o senhor<br />

acha! ─ silvou o professor. As palavras eram como ácido. ─ Estamos<br />

aqui para saber o que Aristóteles acha! ─ Disse isso assim, na<br />

cara <strong>de</strong> todo mundo. ─ Quando quisermos saber o que o senhor<br />

acha, criaremos um curso especial.<br />

Silêncio. O aluno está aturdido. E nós também.<br />

Mas o professor <strong>de</strong> filosofia não terminou ain<strong>da</strong>. Apontando<br />

para o rosto do aluno, or<strong>de</strong>na:<br />

─ Diga-me lá: <strong>de</strong> acordo com Aristóteles, quais são os três<br />

tipos <strong>de</strong> retórica particular, segundo o assunto em <strong>de</strong>bate?<br />

O silêncio continua. O aluno não sabe.<br />

─ Quer dizer que vocês não leram o texto, não é?<br />

E então, com um sorriso que mostra que ele tinha tido essa<br />

intenção todo o tempo, o professor balança o <strong>de</strong>do para lá e para<br />

cá, e acaba indicando Fedro.<br />

─ O senhor, diga-me quais são os três tipos <strong>de</strong> retórica particular<br />

<strong>de</strong> acordo com o assunto <strong>de</strong>batido.<br />

Fedro, porém, está preparado.<br />

─ Forense, <strong>de</strong>liberativo e epidêitico ─ respon<strong>de</strong> ele, tranqüilamente.<br />

─ Quais são as técnicas epidêiticas?<br />

─ A técnica <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s semelhanças, a técnica do<br />

louvor, a técnica do encômio e a técnica <strong>da</strong> ampliação.<br />

─ Ce-e-e-e-erto ─ torna o professor <strong>de</strong> filosofia, <strong>de</strong>vagar. Depois,<br />

se cala.<br />

Os outros ficam assustados, imaginando o que teria acontecido.<br />

Apenas Fedro e, talvez, o professor <strong>de</strong> filosofia sabem. O estu<strong>da</strong>nte<br />

inocente recebeu uma agressão que <strong>de</strong>veria ter sido dirigi<strong>da</strong><br />

a Fedro.<br />

Agora todos assumem expressões mais calmas, para evitar<br />

que o interrogatório continue. O professor <strong>de</strong> filosofia cometeu o<br />

erro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdiçar sua autori<strong>da</strong><strong>de</strong> com um estu<strong>da</strong>nte inocente,<br />

<strong>de</strong>ixando Fedro, o culpado, ain<strong>da</strong> às soltas. E ca<strong>da</strong> vez mais livre.<br />

Como ele não havia perguntado na<strong>da</strong>, não havia meio <strong>de</strong> trucidálo.<br />

E uma vez tendo percebido <strong>de</strong> que maneira serão <strong>da</strong><strong>da</strong>s as respostas,<br />

ele sem dúvi<strong>da</strong> não fará mais perguntas.<br />

O aluno inocente fica olhando fixamente para a mesa, rubori-<br />

361

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!