19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>da</strong> resposta <strong>de</strong>les à carta que lhes enviei avisando que vínhamos.<br />

Pessoas imaginárias não respon<strong>de</strong>m cartas.<br />

John sugere que eu ligue para o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> <strong>arte</strong>s, ou<br />

então para algum amigo. Depois <strong>de</strong> um cigarro e um café, acalmome<br />

o suficiente para fazer o que John sugeriu, e <strong>de</strong>scubro como<br />

chegar à casa <strong>de</strong> DeWeese. Não é a tecnologia que nos amedronta.<br />

O que nos amedronta é o que ela faz com o relacionamento entre as<br />

pessoas ─ por exemplo, entre telefonista e usuário.<br />

Atravessamos os 15 quilômetros <strong>de</strong> vale que separam a ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>s montanhas em estra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> terra, que passam por campos<br />

<strong>de</strong> alfafa bem verdinha, pronta para ser ceifa<strong>da</strong>. A plantação<br />

é tão cerra<strong>da</strong> que <strong>de</strong>ve ser difícil caminhar entre os pés <strong>de</strong> alfafa.<br />

Os campos espraiam-se ao redor e sobem um pouco no sopé <strong>da</strong>s<br />

montanhas, on<strong>de</strong> surge repentinamente o ver<strong>de</strong> bem mais escuro<br />

dos pinhais. Deve ser ali que moram os DeWeeses. No limite entre<br />

o ver<strong>de</strong> claro e o escuro. O vento traz os aromas do gado e do feno<br />

verdinho, recém-cortado. A certa altura, passamos por uma massa<br />

<strong>de</strong> ar frio recen<strong>de</strong>ndo a pinho, que <strong>de</strong>pois se aquece. Luz solar,<br />

pastos, e montanhas avultando à nossa frente.<br />

Ao chegarmos aos pinhais, a cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> cascalho <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />

fica bastante espessa; reduzimos para primeira, a 15km/hora, eu<br />

com os dois pés fora <strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>leiras para empurrar a moto para<br />

cima, caso ela afun<strong>de</strong> no cascalho e comece a se enterrar. Depois<br />

<strong>de</strong> uma curva penetramos <strong>de</strong> repente nos pinhais, numa garganta<br />

profun<strong>da</strong> e estreita nas montanhas, e ali, logo à margem <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>,<br />

avistamos um casarão cin<strong>zen</strong>to, com uma enorme escultura<br />

abstrata em ferro presa a uma <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s. À sombra <strong>da</strong> escultura,<br />

sentado numa ca<strong>de</strong>ira encosta<strong>da</strong> na pare<strong>de</strong> e ro<strong>de</strong>ado por várias<br />

pessoas está o próprio DeWeese, com uma lata <strong>de</strong> cerveja na mão,<br />

acenando para nós. Parece saído <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s antigas fotografias <strong>de</strong><br />

Fedro.<br />

Estou tão ocupado em evitar que a motocicleta afun<strong>de</strong> no<br />

cascalho que não posso tirar as mãos dos punhos, e aceno com<br />

uma <strong>da</strong>s pernas, em resposta. A imagem viva <strong>de</strong> DeWeese sorri<br />

para nós, enquanto estacionamos.<br />

─ Então, você nos encontrou ─ diz ele. Sorriso calmo. Olhar<br />

alegre.<br />

─ Quanto tempo, hein? ─ digo eu. Também me sinto feliz,<br />

embora seja estranho ver aquela imagem assim <strong>de</strong> repente, se movendo<br />

e falando.<br />

Descemos <strong>da</strong>s <strong>motocicletas</strong>, retiramos os capacetes e as lu-<br />

156

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!