19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

premissa, a <strong>de</strong> que a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> era subjetiva, o touro o atingiria<br />

com o outro chifre. A Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> tinha que ser objetiva ou subjetiva:<br />

logo, ele estava liqui<strong>da</strong>do, fosse qual fosse a resposta.<br />

Ele observou que vários dos professores passaram a lhe dirigir<br />

sorrisos complacentes.<br />

No entanto, <strong>de</strong>vido à prática que tinha em matéria <strong>de</strong> lógica,<br />

Fedro sabia que para ca<strong>da</strong> dilema há não apenas duas, mas três<br />

refutações clássicas. E como ele também conhecia outras alternativas<br />

bem menos clássicas, retribuía os sorrisos. Podia escolher o<br />

chifre esquerdo do touro, e refutar a idéia <strong>de</strong> que a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> implicasse<br />

na <strong>de</strong>tecção científica. Podia também escolher o chifre direito<br />

e refutar a idéia <strong>de</strong> que a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> engloba “tudo que a gente<br />

preferir”. Ou então podia escolher uma situação intermediária e<br />

negar que subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> fossem as únicas alternativas.<br />

Ele certamente experimentou as três estratégias.<br />

Além <strong>de</strong>ssas três refutações lógicas clássicas, existem algumas<br />

refutações ilógicas e “retóricas”. Sendo um retórico, Fedro podia<br />

muito bem lançar mão <strong>de</strong>las.<br />

Po<strong>de</strong>-se atirar areia nos olhos do touro. Ele já tinha feito isso,<br />

ao dizer que a incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> constituía<br />

prova <strong>de</strong> incompetência. Existe uma antiga regra lógica segundo<br />

a qual a competência do orador não invali<strong>da</strong> a veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> do seu<br />

discurso. Portanto, falar em incompetência era o mesmo que atirar<br />

areia nos olhos do touro. O maior idiota do mundo po<strong>de</strong> vir dizer<br />

que o sol está brilhando, que isso não vai fazer com que ele se apague.<br />

Sócrates, o antigo inimigo <strong>da</strong> argumentação retórica, acabaria<br />

com essa refutação <strong>de</strong> Fedro, di<strong>zen</strong>do: “Muito bem, eu aceito a premissa<br />

<strong>de</strong> que sou incompetente em matéria <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Agora,<br />

faça o favor <strong>de</strong> mostrar a este velho incompetente o que é Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Do contrário, como po<strong>de</strong>rei aprimorar meus conhecimentos?”<br />

Depois <strong>de</strong>ixaria Fedro se virar por alguns minutos, achatando-o a<br />

seguir com perguntas que provariam que Fedro também não sabia<br />

o que era Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> ─ portanto, pelos próprios padrões <strong>de</strong>le, era<br />

um incompetente.<br />

Po<strong>de</strong>-se tentar embalar o touro com uma canção <strong>de</strong> ninar.<br />

Fedro po<strong>de</strong>ria ter dito aos que o questionavam que a resposta para<br />

tal dilema estava além <strong>de</strong> suas humil<strong>de</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas o fato<br />

<strong>de</strong> ele não encontrar uma resposta não constituía prova lógica <strong>de</strong><br />

que não houvesse solução. Será que eles, que eram mais experientes,<br />

não po<strong>de</strong>riam ajudá-lo a encontrá-la? Só que era um pouco<br />

tar<strong>de</strong> para esse tipo <strong>de</strong> cantilena. Eles simplesmente respon<strong>de</strong>-<br />

232

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!