19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

podia ser captado <strong>de</strong> imediato?<br />

Quanto mais estu<strong>da</strong>va esse argumento, mais terrível ele parecia.<br />

Po<strong>de</strong>ria simplesmente arrasar com sua tese.<br />

Era assim ameaçador porque parecia respon<strong>de</strong>r a uma pergunta<br />

muitas vezes surgi<strong>da</strong> na sala <strong>de</strong> aula, que ele sempre tivera<br />

que respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> modo um tanto casuístico: “Se todo mundo sabe<br />

o que é Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, por que há tanta discordância em relação a<br />

ela?”<br />

A resposta casuística tinha sido que embora a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

pura fosse a mesma para todos, os objetos em que se acreditava<br />

residir a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> variavam <strong>de</strong> pessoa para pessoa. Como para ele<br />

a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> era in<strong>de</strong>finível, não havia jeito <strong>de</strong> refutar essa resposta,<br />

mas ele sabia, e sabia que os alunos sabiam, que havia algo <strong>de</strong><br />

podre naquilo. Não respondia à pergunta feita.<br />

Agora, havia uma outra explicação: as pessoas discor<strong>da</strong>vam<br />

sobre a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> porque algumas só trabalhavam com as emoções<br />

imediatas, enquanto outras utilizavam todo o seu conhecimento.<br />

Ele sabia que, se posto em votação entre os professores <strong>de</strong><br />

inglês, este último argumento, que <strong>de</strong>fendia a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les,<br />

seria aprovado por unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Mas tal idéia era completamente <strong>de</strong>vastadora. Em vez <strong>de</strong> uma<br />

Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> única, uniforme, surgiam agora duas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: uma<br />

romântica, essencialmente visual, que era a dos alunos, e uma<br />

clássica, o conhecimento total, que era a dos professores. Uma liga<strong>da</strong><br />

e uma careta. A caretice não era a ausência <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

era a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> clássica. Ser ligado não era apenas saber perceber<br />

a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>; era perceber a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> romântica. O corte ligado/<br />

careta, por ele <strong>de</strong>scoberto, permanecia <strong>de</strong> pé, mas a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

não parecia mais estar <strong>de</strong> um só lado <strong>de</strong>sse corte, como ele antes<br />

imaginava. Ao contrário, a própria Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dividira-se em duas<br />

p<strong>arte</strong>s, uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> lado <strong>da</strong> linha <strong>de</strong> clivagem. Aquela sua Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

simples, bela, certinha e in<strong>de</strong>finível estava começando a ficar<br />

complexa.<br />

Ele não estava gostando na<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo. O termo clivagem, que<br />

iria unificar os modos romântico e clássico <strong>de</strong> encarar o mundo,<br />

dividira-se em duas p<strong>arte</strong>s e não po<strong>de</strong>ria mais servir <strong>de</strong> elemento<br />

<strong>de</strong> integração. Caíra num moedor <strong>de</strong> carne analítico. Aquela faca<br />

<strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> havia dividido a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao meio,<br />

e retirado sua funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para salvá-la, ele teria <strong>de</strong> evitar que<br />

a faca a atingisse.<br />

E, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que ele falava não era a Quali-<br />

238

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!