19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tem pernas iguaiszinhas às <strong>de</strong>le. Ao passarmos, acenamos para o<br />

casal, que retribui o cumprimento. Esse momento ficará registrado<br />

em filme durante anos.<br />

Fedro, sem saber por quê, <strong>de</strong>sprezava este parque. Talvez<br />

porque não o houvesse <strong>de</strong>scoberto por si mesmo, talvez não. A razão<br />

era outra. Era aquele jeito <strong>de</strong> guia <strong>de</strong> turismo dos guar<strong>da</strong>s<br />

florestais. A expressão <strong>de</strong> freqüentadores <strong>de</strong> zoológico dos turistas<br />

aborrecia-o ain<strong>da</strong> mais. Aquilo era tão diferente <strong>da</strong>s montanhas<br />

próximas... Parecia um gigantesco museu, com espécimes cui<strong>da</strong>dosamente<br />

maquiados, para <strong>da</strong>r a ilusão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas cui<strong>da</strong>dosamente<br />

isolados, para que as crianças não os estragassem. Assim<br />

que entravam, influencia<strong>da</strong>s pelo clima do parque, as pessoas<br />

ficavam educa<strong>da</strong>s, calorosas, num fingimento recíproco. Morando<br />

a uns l60km <strong>da</strong>li, ele viera ao parque apenas uma ou duas vezes.<br />

Bom, mas agora já estamos nos <strong>de</strong>sviando do assunto. Houve<br />

um salto <strong>de</strong> pelo menos uns <strong>de</strong>z anos. Ele não passou <strong>de</strong> Immanuel<br />

Kant para Bozeman, Montana. Durante gran<strong>de</strong> p<strong>arte</strong> <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>z<br />

anos ele morou na índia, estu<strong>da</strong>ndo filosofia oriental na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Hindu <strong>de</strong> Benares.<br />

Que eu saiba, não apren<strong>de</strong>u nenhum segredo por lá. Foi um<br />

período <strong>de</strong> exposição e na<strong>da</strong> mais. Ele ouvia palestras <strong>de</strong> filósofos,<br />

visitava lí<strong>de</strong>res religiosos, absorvendo tudo e meditando; <strong>de</strong>pois<br />

apreendia mais coisas e refletia mais, e foi só. Pelas cartas po<strong>de</strong>-se<br />

perceber uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> incrível <strong>de</strong> contradições, divergências e<br />

exceções a to<strong>da</strong>s as regras que ele formulava para o que via. Ingressara<br />

como cientista empírico e saíra cientista empírico, sem saber<br />

muito mais do que sabia ao chegar. Entretanto, vira muita coisa<br />

e adquirira uma espécie <strong>de</strong> imagem latente que reapareceu mais<br />

tar<strong>de</strong>, junto com outras imagens latentes.<br />

Algumas <strong>de</strong>ssas latências merecem um resumo, porque serão<br />

importantes mais tar<strong>de</strong>. Ele se conscientizou <strong>de</strong> que as diferenças<br />

doutrinárias entre o hinduísmo, o budismo e o taoísmo não são,<br />

em nenhum aspecto, tão significativas quanto as diferenças correspon<strong>de</strong>ntes<br />

entre o cristianismo, o islamismo e o ju<strong>da</strong>ísmo. Não<br />

se travam guerras religiosas a pretexto <strong>de</strong>ssas diferenças, porque<br />

não se consi<strong>de</strong>ra que o discurso sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> seja a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

em si.<br />

Em to<strong>da</strong>s as religiões orientais atribui-se gran<strong>de</strong> valor à doutrina<br />

sânscrita do Tat tvam asi, ou seja, ‘Tu és aquilo”, segundo a<br />

qual não há divisão entre tudo que pensamos ser e tudo que pen-<br />

144

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!