19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

iam: “Não, nós somos caretas <strong>de</strong>mais. E é melhor você manter<br />

o programa em dia até encontrar a solução, porque senão vamos<br />

reprovar esses seus alunos atrapalhados quando os pegarmos no<br />

semestre que vem.”<br />

A terceira alternativa retórica para aquele dilema, a melhor<br />

<strong>de</strong>las, na minha opinião, seria recusar-se a entrar na arena. Fedro<br />

po<strong>de</strong>ria simplesmente ter replicado: “A tentativa <strong>de</strong> classificar a<br />

Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> como objetiva ou subjetiva é uma tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição.<br />

Eu já disse que a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> é in<strong>de</strong>finível.” E ficava por isso mesmo.<br />

Creio até que foi DeWeese que o aconselhou a tomar tal atitu<strong>de</strong>, na<br />

época.<br />

Por que ele resolveu não seguir esse conselho e <strong>de</strong>u uma resposta<br />

lógica e dialética ao dilema, em vez <strong>de</strong> envere<strong>da</strong>r pelo caminho<br />

fácil do misticismo, eu não sei. Mas posso imaginar. Antes<br />

<strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>, ele sentia que a Igreja <strong>da</strong> Razão estava em peso na<br />

arena, e que quando alguém tirava o corpo fora <strong>de</strong> uma disputa<br />

lógica, estava se colocando além <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>bate acadêmico.<br />

O misticismo filosófico, a idéia <strong>de</strong> que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é in<strong>de</strong>finível e<br />

só po<strong>de</strong> ser conheci<strong>da</strong> por meios irracionais, existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios<br />

<strong>da</strong> civilização. Ele é a base <strong>da</strong> experiência Zen. Mas não<br />

é uma disciplina acadêmica. A Aca<strong>de</strong>mia, a Igreja <strong>da</strong> Razão, só se<br />

preocupa com aquilo que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido. O lugar do místico é no<br />

mosteiro, não na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A universi<strong>da</strong><strong>de</strong> é um local on<strong>de</strong> se<br />

busca compreen<strong>de</strong>r as coisas.<br />

Acho que a segun<strong>da</strong> razão pela qual ele <strong>de</strong>cidiu entrar na<br />

arena foi uma razão egocêntrica. Ele sabia que era um lógico e<br />

dialético brilhante, sentia orgulho disso e encarava o dilema em<br />

questão como um <strong>de</strong>safio à sua perícia. Agora me ocorre que talvez<br />

tenha sido esse resquício <strong>de</strong> vai<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>u origem a todos os<br />

problemas <strong>de</strong>le.<br />

Vejo um veado passar uns du<strong>zen</strong>tos metros acima <strong>de</strong> nós,<br />

entre os pinheiros. Tento mostrá-lo ao Chris, mas quando ele olha,<br />

o animal já <strong>de</strong>sapareceu.<br />

A primeira alternativa do dilema <strong>de</strong> Fedro era: “Se a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

existe nos objetos, por que os instrumentos <strong>de</strong> precisão não<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>tectá-la?”<br />

Esta alternativa era bem maldosa. Des<strong>de</strong> o início, ele percebeu<br />

como era fatal. Se ele se consi<strong>de</strong>rasse um supercientista que podia<br />

enxergar nos objetos uma Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que nenhum outro cientista<br />

233

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!