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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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metafísica <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que não conseguia mais perceber o que se<br />

passava lá fora. E como mais ninguém compreendia o mundo <strong>de</strong>le,<br />

ele estava con<strong>de</strong>nado.<br />

Creio que ele, na época, acreditava estar di<strong>zen</strong>do a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, e<br />

não se importava se a maneira pela qual estava se expressando era<br />

insultuosa ou não. Havia tantas coisas a dizer, que ele não tinha<br />

tempo para ficar enfeitando as idéias. Se a universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago<br />

estivesse mais interessa<strong>da</strong> na estética do que ele estava di<strong>zen</strong>do do<br />

que no conteúdo racional, estaria <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> cumprir sua principal<br />

função como universi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Era isso. Ele realmente acreditava. Não era apenas outra<br />

idéia interessante a ser testa<strong>da</strong> pelos métodos racionais existentes.<br />

Era uma alteração nesses próprios métodos racionais. Normalmente,<br />

quando se vai apresentar uma idéia nova num ambiente<br />

acadêmico, age-se objetivamente, sem se envolver com ela. Mas a<br />

idéia <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> questionava justamente essa objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e esse<br />

<strong>de</strong>sinteresse, maneirismos apropriados apenas à razão dualista.<br />

Alcança-se a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dualista através <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>; mas com<br />

a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> criativa, é diferente.<br />

Ele acreditava ter resolvido um enorme quebra-cabeça universal,<br />

ter cortado o nó górdio do pensamento dualista, com apenas<br />

uma palavra: Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. E não estava disposto a <strong>de</strong>ixar que ninguém<br />

restringisse <strong>de</strong> novo o sentido <strong>da</strong> expressão. Nessa crença,<br />

ele parecia não perceber que suas palavras soavam para os outros<br />

inominavelmente megalomaníacas. Se ele percebia isso, não se importava.<br />

Suas idéias eram megalomaníacas, contudo, e se fosse<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>? Se ele estivesse errado, ninguém se importaria. Mas, e se<br />

ele estivesse certo? Monstruoso seria estar certo e <strong>de</strong>sistir <strong>da</strong>quelas<br />

idéias apenas para agra<strong>da</strong>r aos professores.<br />

Assim, ele simplesmente não se importava com as conseqüências.<br />

Comportava-se <strong>de</strong> um modo fanático. Naquele tempo, viveu<br />

num universo <strong>de</strong> discurso solitário. Ninguém o compreendia.<br />

E quanto mais os outros lhe manifestavam tal incompreensão e<br />

reprovavam o que compreendiam, mais fanático e <strong>de</strong>sagradável ele<br />

se tornava.<br />

Aquela provocação à expulsão foi recebi<strong>da</strong> conforme ele esperava.<br />

Já que o seu campo substantivo era a filosofia, ele <strong>de</strong>via<br />

candi<strong>da</strong>tar-se ao <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> filosofia, não à banca.<br />

Foi o que Fedro fez. Ele e a família puseram no carro e no<br />

reboque tudo que possuíam, <strong>de</strong>spediram-se dos amigos e, quando<br />

estavam para sair, enquanto ele trancava as portas <strong>da</strong> casa pela<br />

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