19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mos para enten<strong>de</strong>r os métodos que produziram tais resultados.<br />

Reflito por alguns instantes, e <strong>de</strong>pois pergunto:<br />

─ Da última vez que estive aqui, falei muito sobre a Igreja <strong>da</strong><br />

Razão?<br />

─ É, você falou muito sobre isso.<br />

─ Eu já lhe falei <strong>de</strong> um sujeito chamado Fedro?<br />

─ Não.<br />

─ Quem era? ─ pergunta Gennie:<br />

─ Um grego antigo... Um retórico... Um “professor <strong>de</strong> re<strong>da</strong>ção”<br />

<strong>da</strong> sua época. Era um dos que estavam presentes quando a<br />

razão foi inventa<strong>da</strong>.<br />

─ Acho que você nunca nos falou sobre isso.<br />

─ É que nunca foi necessário. Os retóricos <strong>da</strong> Grécia antiga<br />

foram os primeiros professores na história do mundo oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Platão os con<strong>de</strong>nou, em sua obra, a papéis que interessavam a<br />

ele, e uma vez que <strong>de</strong>les só conhecemos o que Platão nos transmite,<br />

eles são especiais, porque foram con<strong>de</strong>nados pela história sem<br />

terem podido <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se. A Igreja <strong>da</strong> Razão, <strong>da</strong> qual lhes falei, foi<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobre os túmulos <strong>de</strong>sses retóricos, e hoje em dia são esses<br />

túmulos que a sustentam. Quando escavamos seus alicerces, encontramos<br />

apenas fantasmas.<br />

Olhando para o relógio <strong>de</strong> pulso, vejo que são mais <strong>de</strong> duas<br />

horas <strong>da</strong> manhã.<br />

─ É uma história bem compri<strong>da</strong> ─ comento.<br />

─ Você <strong>de</strong>via escrever essas coisas ─ diz Gennie.<br />

Concordo com um gesto <strong>de</strong> cabeça.<br />

─ Estou pensando em escrever uma série <strong>de</strong> palestras ─ uma<br />

espécie <strong>de</strong> chautauqua. Estive tentando compô-las na minha cabeça<br />

enquanto viajávamos... Provavelmente é por isso que pareço<br />

estar tão preparado para falar sobre o assunto: É tanta coisa, tudo<br />

tão difícil quanto viajar a pé através <strong>de</strong>stas montanhas.<br />

─ O problema ─ prossigo ─ é que as palestras sempre parecem<br />

transmitir ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>finitivas, e as coisas não são sempre<br />

assim. As pessoas <strong>de</strong>viam enten<strong>de</strong>r que elas não passam <strong>de</strong> discursos<br />

isolados, localizados no tempo e no espaço, e inseridos num<br />

<strong>de</strong>terminado conjunto <strong>de</strong> circunstâncias. São apenas isso, na<strong>da</strong><br />

mais. Mas não se po<strong>de</strong> dizê-lo numa palestra.<br />

─ De qualquer maneira, você <strong>de</strong>via escrever tudo ─ diz Gennie.<br />

─ Sem perfeccionismos.<br />

─ Acho que sim ─ concordo eu.<br />

─ Isso tem alguma coisa a ver com o trabalho que você vinha<br />

172

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!