19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

vive numa repugnante prisão <strong>de</strong> tecnologia plástica, que teve início<br />

com os brinquedos <strong>da</strong> infância e continua pela vi<strong>da</strong> afora, atravancando<br />

a existência com uma batela<strong>da</strong> <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> consumo que<br />

para na<strong>da</strong> servem, provavelmente verá o plástico como algo essencialmente<br />

feio. Mas a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira feiúra <strong>da</strong> tecnologia mo<strong>de</strong>rna não<br />

se encontra em nenhum material, formato, ato ou produto. Estes<br />

são apenas os objetos nos quais parece residir a baixa Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

É nosso costume atribuir Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> aos sujeitos e objetos que nos<br />

dão essa impressão.<br />

A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira feiúra não provém dos objetos, nem <strong>da</strong> tecnologia.<br />

Também não provém, segundo a metafísica <strong>de</strong> Fedro, <strong>de</strong> nenhum<br />

sujeito <strong>da</strong> tecnologia, <strong>da</strong>s pessoas que a produzem, ou <strong>da</strong>queles<br />

que a utilizam. A Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou sua ausência, não está no<br />

sujeito, nem no objeto. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira feiúra localiza-se na relação<br />

entre as pessoas que produzem a tecnologia e as coisas produzi<strong>da</strong>s,<br />

que gera uma relação semelhante entre as pessoas que usam<br />

a tecnologia e as coisas por elas utiliza<strong>da</strong>s.<br />

Fedro achava que no momento <strong>de</strong> percepção <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

pura, não no <strong>da</strong> simples percepção, mas no <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> pura, o<br />

sujeito e o objeto <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> existir. Existe apenas uma sensação<br />

<strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que produz uma consciência posterior dos sujeitos<br />

e objetos. No momento <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> pura, o sujeito passa a ser<br />

idêntico ao objeto. Esta é a doutrina do tat tvam asi, conti<strong>da</strong> nos<br />

Upanixa<strong>de</strong>s, mas também encontra<strong>da</strong> na nossa fala cotidiana. “Estar<br />

por <strong>de</strong>ntro”, “sacar” e “curtir” são gírias que mostram essa i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Ela é a base do <strong>arte</strong>sanato, em to<strong>da</strong>s as <strong>arte</strong>s técnicas. E foi<br />

essa i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> que a tecnologia mo<strong>de</strong>rna, concebi<strong>da</strong> <strong>de</strong> maneira<br />

dualista, per<strong>de</strong>u. O criador <strong>de</strong>ssa tecnologia não se i<strong>de</strong>ntifica com<br />

ela <strong>de</strong> jeito nenhum. Seus usuários não se i<strong>de</strong>ntificam com ela.<br />

Daí, segundo Fedro, a ausência <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Aquela muralha coreana que Fedro viu era produto <strong>da</strong> tecnologia.<br />

Era bela, não por ter sido planeja<strong>da</strong> com maestria, nem por<br />

ter sido cientificamente controla<strong>da</strong> ao ser construí<strong>da</strong>, e tampouco<br />

<strong>de</strong>vido aos gastos adicionais feitos para “sofisticá-la”. Era bela porque<br />

aqueles que a produziram tinham uma visão <strong>de</strong> mundo que<br />

os fazia trabalharem sem qualquer resquício <strong>de</strong> individualização.<br />

Eles se entregavam ao trabalho <strong>de</strong> corpo e alma, <strong>de</strong> modo que não<br />

podiam cometer erros. Este é o cerne <strong>da</strong> solução.<br />

A resposta para o conflito entre os valores humanos e as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

tecnológicas não está na fuga. Fugir <strong>da</strong> tecnologia é<br />

impossível. Para resolver o conflito, é preciso romper as barreiras<br />

292

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!