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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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a gente se inclina nas curvas, do que <strong>de</strong> carro, on<strong>de</strong> se é jogado<br />

<strong>de</strong> um lado para o outro <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um compartimento. As estra<strong>da</strong>s<br />

menos movimenta<strong>da</strong>s, além <strong>de</strong> mais agradáveis, são também<br />

mais seguras. As melhores estra<strong>da</strong>s são aquelas sem drive-ins nem<br />

anúncios, on<strong>de</strong> se vêem arvores, pastos, pomares e capinzais que<br />

chegam até a beira do acostamento, on<strong>de</strong> crianças acenam quando<br />

a gente passa, on<strong>de</strong> as pessoas espiam <strong>da</strong>s varan<strong>da</strong>s para ver<br />

quem é, on<strong>de</strong> a gente pára para pedir uma orientação ou uma informação<br />

e a resposta geralmente é mais longa do que se espera,<br />

on<strong>de</strong> as pessoas perguntam <strong>de</strong> on<strong>de</strong> você vem e há quanto tempo<br />

está viajando.<br />

Foi há alguns anos que minha mulher, eu e meus amigos<br />

começamos a compreen<strong>de</strong>r essas estra<strong>da</strong>s. Entrávamos por elas <strong>de</strong><br />

vez em quando, para variar um pouco, ou para alcançar outra via<br />

principal. Ao fazê-lo, gozávamos a paisagem magnífica e saíamos<br />

com uma sensação <strong>de</strong> relaxamento e prazer. Fizemos isso vezes<br />

sem conta, até percebermos o óbvio: essas estra<strong>da</strong>s eram mesmo<br />

diferentes <strong>da</strong>s principais. A personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o ritmo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

pessoas que ali moravam eram completamente diferentes. São seres<br />

que não têm objetivos rígidos. Não estão ocupados <strong>de</strong>mais para<br />

serem gentis. Sabem tudo sobre o “aqui” e o “agora” <strong>da</strong>s coisas. Foram<br />

os outros, os que se mu<strong>da</strong>ram para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> anos atrás e seus<br />

filhos perdidos que quase se esqueceram disto tudo. A <strong>de</strong>scoberta<br />

foi um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro achado.<br />

Fico pensando por que levamos tanto tempo para compreen<strong>de</strong>r.<br />

Víamos tudo, e no entanto, na<strong>da</strong> víamos. Ou melhor, estávamos<br />

acostumados a não ver, orientados para crer que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é a metropolitana e que tudo isto era apenas uma roça<br />

sem graça. Coisa intrigante. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> batendo à nossa porta, e a<br />

gente respon<strong>de</strong>ndo: “Vá an<strong>da</strong>ndo, estou em busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>.” E<br />

aí ela vai embora. Realmente incrível.<br />

Mas, ao alcançar a compreensão, <strong>de</strong>cidimos que na<strong>da</strong> nos faria<br />

<strong>de</strong>ixar estas estra<strong>da</strong>s, fins <strong>de</strong> semana, tar<strong>de</strong>s, férias. Passamos<br />

a ser ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros aficionados dos passeios <strong>de</strong> moto em estra<strong>da</strong>s<br />

secundárias e <strong>de</strong>scobrimos nessas viagens que havia muita coisa<br />

para apren<strong>de</strong>r.<br />

Apren<strong>de</strong>mos, por exemplo, a localizar as estra<strong>da</strong>s boas no<br />

mapa. Se a linha for sinuosa, é boa. Significa que há morros. Se a<br />

linha parece representar a rota principal <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>zinha para<br />

uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> maior, a estra<strong>da</strong> não serve. As melhores geralmente<br />

são aquelas que ligam locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sem gran<strong>de</strong> importância, varian-<br />

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