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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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correspondia. O artigo dizia que os provisores receberam algumas<br />

reclamações por causa disso. Era uma igreja católica, e o padre<br />

encarregado <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às críticas parecia bastante irritado com<br />

o que estava acontecendo. Para ele, o fato mostrava que as pessoas<br />

ignoravam o que fosse uma igreja. Pensavam que tijolos, tábuas e<br />

vidro constituíam uma igreja? Ou o formato do telhado? Aquilo era<br />

um exemplo do mesmo materialismo <strong>de</strong>sprezado pela Igreja, disfarçado<br />

em pie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O prédio em questão não era mais um lugar santo.<br />

Per<strong>de</strong>ra o caráter sagrado, e pronto. O anúncio <strong>de</strong> cerveja estava<br />

à porta <strong>de</strong> um bar, não <strong>de</strong> uma igreja. Aqueles que não conheciam<br />

a diferença estavam simplesmente mostrando o que eram.<br />

Fedro <strong>de</strong>clarou então que existia o mesmo tipo <strong>de</strong> confusão<br />

com relação à universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. E por isso era difícil compreen<strong>de</strong>r a<br />

per<strong>da</strong> do reconhecimento. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong> não é um objeto<br />

material. Não é um conjunto <strong>de</strong> edifícios que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fendido<br />

pela polícia. Quando uma facul<strong>da</strong><strong>de</strong> perdia o reconhecimento,<br />

não vinha ninguém fechar a escola. Não havia penali<strong>da</strong><strong>de</strong>s legais,<br />

multas, nem man<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> prisão. As aulas não terminavam. Tudo<br />

continuava como antes. Os alunos recebiam a mesma educação<br />

que receberiam se a escola continuasse sendo reconheci<strong>da</strong>. Só que<br />

haveria aceitação oficial <strong>de</strong> uma situação já existente. Era algo<br />

parecido com a excomunhão. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que nenhuma<br />

assembléia po<strong>de</strong>ria influenciar, e que nunca po<strong>de</strong>ria ser<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> como qualquer disposição <strong>de</strong> tijolos, tábuas e vidro,<br />

simplesmente <strong>de</strong>clararia que este não é mais um “lugar santo”. A<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ixaria este local, e só sobrariam os tijolos,<br />

os livros e as manifestações materiais.<br />

Os estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong>vem ter ficado perplexos ao ouvir tais idéias,<br />

e creio que Fedro <strong>de</strong>ve ter-se calado por um bom tempo, para que<br />

elas fossem absorvi<strong>da</strong>s, talvez esperando por uma pergunta do tipo:<br />

“E o que acha você que é a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong>?”<br />

Em suas anotações encontra-se a seguinte resposta:<br />

“A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong> não se localiza num lugar específico.<br />

Não tem proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, não paga salários, não recebe taxas<br />

materiais. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong> é um estado <strong>de</strong> espírito. É<br />

a gran<strong>de</strong> herança do pensamento racional que nos foi lega<strong>da</strong> ao<br />

correr dos séculos e que não tem lugar específico para ficar. É um<br />

estado <strong>de</strong> espírito que se renova através dos séculos, graças a um<br />

grupo <strong>de</strong> pessoas que ostentam tradicionalmente o título <strong>de</strong> professor,<br />

título esse que, no fundo, também não faz p<strong>arte</strong> <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira universi<strong>da</strong><strong>de</strong> é na<strong>da</strong> mais na<strong>da</strong> menos que o<br />

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