19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vimento, mas já começando a parar. Eu não o estou incentivando.<br />

Eu nunca o estimulei. Eu o estou matando.<br />

─ Não é culpa sua, Chris. Nunca foi. Enten<strong>da</strong> isso, por favor.<br />

O olhar <strong>de</strong>le <strong>de</strong> repente se volta para <strong>de</strong>ntro. Ele fecha os olhos e<br />

<strong>de</strong>ixa escapar um grito estranho, um lamento que parece vir <strong>de</strong><br />

muito longe. Voltando-se, cambaleia, ajoelha-se, dobra-se, e fica<br />

balançando para a frente e para trás, até encostar a cabeça no<br />

chão. Uma brisa nevoenta toca o capim ao seu redor. Uma gaivota<br />

pousa nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Através <strong>da</strong> neblina, ouço o ranger <strong>da</strong>s engrenagens do motor<br />

<strong>de</strong> um caminhão e fico apavorado.<br />

─ An<strong>da</strong>, Chris, levanta <strong>da</strong>í.<br />

O lamento é agudo e <strong>de</strong>sumano, como uma sirene longínqua.<br />

─ Chris, você tem <strong>de</strong> levantar!<br />

Ele continua se balançando e gritando ali no chão.<br />

O que fazer agora? Não sei. Tudo está consumado. Sinto vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> correr até a beira do penhasco, mas me contenho. Tenho<br />

primeiro que colocá-lo no ônibus; <strong>de</strong>pois, posso pensar no penhasco.<br />

Agora está tudo bem, Chris.<br />

Essa não é a minha voz.<br />

Eu não me esqueci <strong>de</strong> você.<br />

Chris pára <strong>de</strong> se balançar.<br />

Como po<strong>de</strong>ria me esquecer?<br />

Chris levanta a cabeça e me olha. Por um instante, <strong>de</strong>saparece<br />

a barreira através <strong>da</strong> qual ele sempre me olhou. Mas <strong>de</strong>pois<br />

ela volta.<br />

Agora vamos ficar juntos.<br />

O clamor do caminhão já está bem próximo.<br />

Agora, levante-se!<br />

Chris endireita-se e fica me fitando. O caminhão chega, pára,<br />

o motorista olha para ver se precisamos <strong>de</strong> carona. Nego com um<br />

gesto <strong>de</strong> cabeça e faço um sinal para que ele prossiga. Ele assente<br />

e engrena o veículo, que segue, gemendo, neblina a<strong>de</strong>ntro. Agora<br />

estamos sós, Chris e eu.<br />

Coloco meu blusão em torno dos ombros <strong>de</strong>le. Ele escon<strong>de</strong>u<br />

novamente a cabeça entre os joelhos e começou a chorar, só que<br />

<strong>de</strong>sta vez é um choro baixo e humano, diferente <strong>da</strong>quele lamento<br />

estranho. Minhas mãos estão molha<strong>da</strong>s, minha testa também.<br />

Depois <strong>de</strong> um instante, ele geme:<br />

402

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!