19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>da</strong>s... ─ Mas o presi<strong>de</strong>nte o interrompe. Vendo que não consegue<br />

controlar a situação, resolve <strong>de</strong>sistir.<br />

Ele não me <strong>de</strong>via ter interrompido, pensa Fedro. Se estivesse<br />

mesmo em busca <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo um <strong>de</strong>terminado<br />

ponto <strong>de</strong> vista, ele não teria feito isso. Precisa apren<strong>de</strong>r que, uma<br />

vez estabelecido que “a dialética vem antes <strong>de</strong> qualquer outra coisa”,<br />

essa própria afirmação se transforma numa enti<strong>da</strong><strong>de</strong> dialética,<br />

sujeita a um questionamento dialético.<br />

Fedro sentiu vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> perguntar como se po<strong>de</strong>ria provar<br />

que o método dialético, por perguntas e respostas, para atingir a<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, vinha antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>. Não há nenhuma prova disso.<br />

E quando essa afirmação é isola<strong>da</strong> e submeti<strong>da</strong> também a investigação,<br />

ela se torna niti<strong>da</strong>mente ridícula. Eis a dialética, como a lei<br />

<strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, flutuando sozinha no na<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ndo origem a todo o<br />

universo. Que tal? Coisa mais estúpi<strong>da</strong>!<br />

A dialética, que é parente <strong>da</strong> lógica, veio <strong>da</strong> retórica. A retórica,<br />

por sua vez, é filha dos mitos e <strong>da</strong> poesia <strong>da</strong> Grécia antiga. Tal<br />

é a explicação histórica, e também lógica. A poesia e os mitos são<br />

a resposta <strong>de</strong> um povo pré-histórico ao universo que o cerca, feita<br />

com base na Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. É a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não a dialética, que gera<br />

tudo o que conhecemos.<br />

Ao fim <strong>da</strong> aula, o presi<strong>de</strong>nte posta-se ao lado <strong>da</strong> porta e fica<br />

respon<strong>de</strong>ndo a perguntas. Fedro quase se aproxima para dizer alguma<br />

coisa, mas se contém. Os golpes que se leva pela vi<strong>da</strong> afora<br />

ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>sestimular-nos a buscar qualquer relacionamento <strong>de</strong>snecessário<br />

que nos possa ferir mais. Não se disse, nem se insinuou<br />

qualquer coisa agradável, e houve muita agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Fedro, o lobo. Até que combina. Voltando a passos leves para<br />

seu apartamento, ele percebe que o epíteto se aplica ca<strong>da</strong> vez mais.<br />

Não teria ficado satisfeito se eles se maravilhassem com a tese. A<br />

agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> é o seu elemento. É, sim. Fedro, o lobo, sim, vindo<br />

<strong>da</strong>s montanhas para atacar os pobres ci<strong>da</strong>dãos <strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

intelectual. Combina perfeitamente.<br />

A Igreja <strong>da</strong> Razão, como to<strong>da</strong>s as instituições do sistema, não<br />

se baseia na força individual, mas na fraqueza <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um. O que<br />

ela exige, no fundo, não é capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Só então é<br />

que consi<strong>de</strong>ram a gente pessoas ensináveis. Uma pessoa realmente<br />

capaz representa sempre uma ameaça. Fedro enten<strong>de</strong> que jogou<br />

fora a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se integrar na organização, submetendo-se<br />

a qualquer idéia aristotélica que se supunha que ele fosse adotar.<br />

Mas essa espécie <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> não vale as mesuras, os rapapés<br />

387

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!