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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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Os ovos estão gostosos, e o presunto também. Chris fala do<br />

sonho, do susto que levou, e <strong>de</strong>pois não comenta mais na<strong>da</strong>. Parece<br />

que quer fazer uma pergunta, mas não faz; olha para o pinhal<br />

pela janela e <strong>de</strong>pois torna a hesitar.<br />

─ Papai!<br />

─ Que é?<br />

─ Por que é que a gente está fa<strong>zen</strong>do isso?<br />

─ O quê?<br />

─ Viajando o tempo todo <strong>de</strong> moto, assim.<br />

─ A gente está passeando... Estamos <strong>de</strong> férias.<br />

A resposta não parece satisfazê-lo. Mas ele não consegue <strong>de</strong>finir<br />

on<strong>de</strong> está o problema.<br />

De repente, sinto uma on<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero como aquela que<br />

me assaltou ao amanhecer. Eu fico mentindo a ele. Esse é que é o<br />

problema.<br />

─ A gente fica só an<strong>da</strong>ndo <strong>de</strong> moto o tempo todo ─ reclama<br />

Chris.<br />

─ Claro. O que é que você queria estar fa<strong>zen</strong>do?<br />

Ele não respon<strong>de</strong>.<br />

E nem eu.<br />

Na estra<strong>da</strong>, me ocorre uma resposta: nós estamos fa<strong>zen</strong>do a<br />

coisa <strong>de</strong> mais alta Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que eu posso imaginar. Mas também<br />

não ia adiantar dizer isso a ele. Eu não sei o que mais po<strong>de</strong>ria ter<br />

dito. Mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, antes <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>spedirmos, se as<br />

coisas chegarem a tal ponto, vamos ter que conversar. Protegê-lo<br />

assim do passado talvez lhe esteja fa<strong>zen</strong>do mais mal do que bem.<br />

Ele terá que saber o que aconteceu a Fedro, embora nunca <strong>de</strong>va<br />

conhecer p<strong>arte</strong> <strong>da</strong> história. Principalmente o fim.<br />

Fedro chegou à universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago já num contexto intelectual<br />

tão diferente <strong>da</strong>quele que enten<strong>de</strong>mos, que seria difícil<br />

<strong>de</strong>screvê-lo mesmo que eu me lembrasse <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>talhes. Sei<br />

que o presi<strong>de</strong>nte em exercício o admitiu na ausência do presi<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>de</strong>vido à sua experiência letiva e óbvia capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentar<br />

uma conversação com inteligência. Não me lembro do que ele realmente<br />

disse. Depois, esperou, por algumas semanas, que o presi<strong>de</strong>nte<br />

voltasse, na esperança <strong>de</strong> obter uma bolsa <strong>de</strong> estudos, mas<br />

quando o presi<strong>de</strong>nte finalmente apareceu, a entrevista se resumiu<br />

a uma pergunta e uma resposta:<br />

─ Qual o seu campo substantivo? perguntou o presi<strong>de</strong>nte.<br />

─ Composição em inglês ─ respon<strong>de</strong>u Fedro.<br />

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