19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sofistica<strong>da</strong>s, roupas sofistica<strong>da</strong>s; gela<strong>de</strong>iras sofistica<strong>da</strong>s, cheias <strong>de</strong><br />

comi<strong>da</strong> sofistica<strong>da</strong>, nas cozinhas <strong>de</strong> casas sofistica<strong>da</strong>s. Brinquedos<br />

<strong>de</strong> plástico sofisticados para crianças sofistica<strong>da</strong>s, que nos natais<br />

e nos aniversários estão sempre na mo<strong>da</strong>, assim como seus pais. A<br />

gente mesmo tem que ser profun<strong>da</strong>mente sofisticado para não se<br />

encher disso tudo <strong>de</strong> vez em quando. É a sofisticação que nos satura:<br />

essa feiúra tecnológica coberta por uma cal<strong>da</strong> <strong>de</strong> falsificação<br />

romântica, na tentativa <strong>de</strong> se converter em beleza e produzir lucro<br />

para pessoas que, embora sejam sofistica<strong>da</strong>s, não sabem por on<strong>de</strong><br />

começar, porque ninguém jamais lhes disse que existe neste mundo<br />

uma coisa chama<strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é genuína, não sofistica<strong>da</strong>.<br />

A Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser coloca<strong>da</strong> sobre os sujeitos e os objetos,<br />

como os ouropéis numa árvore <strong>de</strong> Natal. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve <strong>da</strong>r origem aos sujeitos e objetos, <strong>de</strong>ve ser o cone que gera a<br />

árvore.<br />

Para alcançar este tipo <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> é necessário agir <strong>de</strong><br />

modo diferente do que nos transmitem os manuais <strong>de</strong> instrução ─<br />

l.a etapa, 2.a etapa, 3.a etapa ─ <strong>da</strong> tecnologia dualista. E é isso que<br />

vou tentar explicar agora.<br />

Depois <strong>de</strong> mil voltas e reviravoltas entre os padrões <strong>da</strong> garganta,<br />

resolvemos <strong>de</strong>scansar num pequeno recanto, coberto <strong>de</strong><br />

arvoredo e rochas. O capim à volta <strong>da</strong>s árvores é castanho, está<br />

queimado e cheio do lixo <strong>de</strong> piqueniques.<br />

Chris nem se aproxima do rio para observá-lo, e eu estranho<br />

essa falta <strong>de</strong> interesse. Está cansado, como eu, e satisfeito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

sentar-se à sombra exígua do arvoredo.<br />

Logo ele me diz que parece existir uma velha bomba d’água<br />

entre o rio e o lugar on<strong>de</strong> estamos. Aponta para o objeto, e eu entendo<br />

o que ele quer dizer. Chris vai até lá, puxa a água, apara-a na<br />

mão em concha e <strong>de</strong>pois borrifa-a no rosto. Eu também me acerco<br />

e bombeio a água para ele, <strong>de</strong> modo que ele possa usar as duas<br />

mãos. Depois faço o mesmo que ele. A água refresca-me as mãos e<br />

o rosto. Ao terminarmos, voltamos para a motocicleta e entramos<br />

<strong>de</strong> novo na estra<strong>da</strong>.<br />

Retornemos também à solução. Até agora, nesta chautauqua,<br />

encaramos o problema <strong>da</strong> feiúra tecnológica <strong>de</strong> maneira negativa.<br />

Dissemos que as atitu<strong>de</strong>s românticas em relação à Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

como as dos Sutherlands, são inúteis em si. Não se po<strong>de</strong> viver <strong>de</strong><br />

emoções estéticas. É necessário levar também em conta a forma<br />

294

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!