19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ness... afim, kin... Mein Kind... já é outra língua, e quer dizer “meu<br />

filho”. Mein Kind... “Wer reitet so spat durch Nacht und Wind? Es<br />

ist <strong>de</strong>r Vater mit seinem Kind.”<br />

Sensação mais estranha, a que esses versos me trazem.<br />

─ No que está pensando? — pergunta Sylvia.<br />

─ Num antigo poema <strong>de</strong> Goethe. Deve ter uns du<strong>zen</strong>tos anos.<br />

Tive que <strong>de</strong>corá-lo há muito tempo atrás. Não sei por que me lembrei<br />

<strong>de</strong>le agora, a não ser... ─ A sensação estranha volta.<br />

─ Que é que ele diz?<br />

Tento recor<strong>da</strong>r-me.<br />

─ Fala <strong>de</strong> um homem que an<strong>da</strong> a cavalo pela praia à noite,<br />

contra o vento. É um pai, que leva o filho apertado nos braços. Ele<br />

pergunta por que o filho parece tão pálido, e o menino respon<strong>de</strong>:<br />

“Pai, você não está vendo o fantasma?” O pai tenta convencer o<br />

garoto <strong>de</strong> que ele só estava vendo uma faixa <strong>de</strong> neblina ao longo <strong>da</strong><br />

praia e ouvindo o vento a sacudir as folhas. Mas o filho insiste que<br />

é um fantasma, e o pai cavalga ain<strong>da</strong> mais rápido noite a<strong>de</strong>ntro.<br />

─ E como termina?<br />

─ Mal... o garoto morre. O fantasma vence.<br />

O vento atiça os carvões, que irradiam mais luz, e eu vejo a<br />

expressão assusta<strong>da</strong> <strong>de</strong> Sylvia.<br />

─ Mas isso foi em outro lugar, em outra época. Aqui é a vi<strong>da</strong><br />

que triunfa, os fantasmas não fazem sentido. É no que acredito. Eu<br />

também acredito em tudo isto ─ e lanço um olhar à pra<strong>da</strong>ria escura<br />

─, embora não tenha ain<strong>da</strong> certeza do que significa... Não tenho me<br />

sentido muito seguro ultimamente. Talvez seja essa a razão por que<br />

falo tanto...<br />

A luz <strong>da</strong>s brasas vai se extinguindo pouco a pouco. Fumamos<br />

os últimos cigarros. Chris está perdido na escuridão, em algum<br />

lugar, mas não pretendo me embrenhar no mato atrás <strong>de</strong>le. John<br />

trata <strong>de</strong> ficar calado, Sylvia também está silenciosa, e subitamente<br />

nos isolamos, fechamo-nos em nossos mundos, sem nos comunicarmos.<br />

Apagamos a fogueira, e vamos nos enfiar nos sacos <strong>de</strong><br />

dormir, ao pé dos pinheiros.<br />

Descubro que nosso pequeno refúgio no meio dos pinheiros<br />

raquíticos também é o refúgio <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> mosquitos que vêm <strong>da</strong><br />

represa. O repelente não adianta na<strong>da</strong>. Eu me encolho no fundo<br />

do saco, <strong>de</strong>ixando só um buraquinho para respirar. Quando Chris<br />

reaparece, já estou quase pegando no sono.<br />

─ Tem uma duna enorme ali embaixo ─ informa ele, esmagando<br />

as agulhas <strong>de</strong> pinheiro ao caminhar.<br />

67

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!