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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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te parasitas, não po<strong>de</strong>m consigo mesmos, um autêntico peso morto<br />

nas costas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Agora essas linhas <strong>de</strong> conflito <strong>de</strong>vem estar<br />

se tornando bastante familiares.<br />

É essa a raiz do problema. As pessoas ten<strong>de</strong>m a pensar e a<br />

sentir exclusivamente <strong>de</strong> acordo com uma <strong>de</strong>ssas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e<br />

ao fazê-lo ten<strong>de</strong>m a interpretar mal e a subestimar o significado <strong>da</strong><br />

outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como ninguém está disposto a renunciar ao seu<br />

modo <strong>de</strong> enxergar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que eu saiba, até hoje ninguém conseguiu<br />

conciliar essas duas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Não existe<br />

um ponto <strong>de</strong> união entre as duas visões <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Por isso, nos últimos tempos, observou-se uma enorme ruptura<br />

entre a cultura clássica e a contracultura romântica ─ dois<br />

mundos ca<strong>da</strong> vez mais isolados um do outro e <strong>de</strong>testados um pelo<br />

outro, todos especulando sobre o futuro, se será sempre assim<br />

mesmo, uma casa dividi<strong>da</strong> em dois lados antagônicos. No fundo,<br />

ninguém quer isso ─ apesar do que os antagonistas, do outro lado,<br />

possam estar pensando.<br />

O que Fedro pensava e dizia era importante nesse contexto.<br />

Mas ninguém o ouviu naquela época; a princípio, consi<strong>de</strong>raramno<br />

excêntrico, <strong>de</strong>pois, in<strong>de</strong>sejável, <strong>de</strong>pois, meio biruta, e, por fim,<br />

completamente maluco. Provavelmente ele era mesmo louco, mas<br />

a maior p<strong>arte</strong> dos escritos <strong>de</strong> sua autoria correspon<strong>de</strong>ntes àquela<br />

época indica que o que o estava enlouquecendo era essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

hostili<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação a ele. Os comportamentos diferentes provocam<br />

nas outras pessoas uma estranheza que ten<strong>de</strong> a piorar os<br />

ditos comportamentos, e aí piora a estranheza, num processo <strong>de</strong><br />

realimentação, até atingir alguma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>senlace. Fedro, por<br />

exemplo, foi preso por or<strong>de</strong>m judicial e afastado do convívio com a<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Noto que chegamos ao retorno à esquer<strong>da</strong>, para entrarmos<br />

na rodovia US-12; John parou para encher o tanque Paro ao lado<br />

<strong>de</strong>le.<br />

O termômetro ao lado <strong>da</strong> porta do posto marca 33°C.<br />

─ Hoje vai ser outro dia <strong>da</strong>queles <strong>de</strong> lascar ─ comento.<br />

Depois <strong>de</strong> encher os tanques, atravessamos a rua e tomamos<br />

café num restaurante. Chris, naturalmente, está com fome.<br />

Digo-lhe que já esperava por isso, e que, <strong>de</strong> agora em diante,<br />

ou ele come junto conosco, ou então fica sem comer. Falo não num<br />

tom zangado, mas calmo, sem me alterar. Ele não gosta, mas agora<br />

está vendo como vai ser.<br />

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