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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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A demonologia não desvia a atenção das causas dos males generalizados e de suas<br />

possíveis soluções? Não sustentava Rudolf Bultmann ser a demonologia unia fuga para<br />

uma cosmovisão mitológica antiquada? 53 Se os problemas sociais e morais forem<br />

elevados ao âmbito da luta entre a Igreja e as forças demoníacas, a Igreja não perde a sua<br />

capacidade de participar do tipo de diálogo humilde e análise sábia tão necessários para<br />

uma ação moral necessária?<br />

A demonologia é trivializada e problemática quando confinada ao âmbito da fantasia<br />

mitológica que envolve criaturas escuras e feias, com chifres e patas. Semelhantes<br />

caprichos da imaginação são facilmente deixados de lado pelo pensamento moderno.<br />

Semelhantes imagens e fantasias podem inclusive levar à preocupação malsã com um<br />

âmbito abstrato de horror, criado pela própria pessoa, bem diferente dos males concretos<br />

que oprimem as vidas humanas e que se opõem à vontade de Deus. Como consequência,<br />

C. S. Lewis tinha toda a razão ao dizer que parece que a demonologia , provoca, numa<br />

diversidade de culturas modernas, ou uma rejeição simplista da existência dos demônios,<br />

ou uma preocupação malsã com eles. 54 Ambos os erros removem os crentes do desafio<br />

real de repudiar as reais forças das trevas. Entende-se, agora, porque os cristãos alemães,<br />

durante a Segunda Guerra Mundial, repudiavam o diabo e todas as suas obras, em sua<br />

resistência contra os nazistas.<br />

ANTIGO TESTAMENTO<br />

As Escrituras não estão dominadas pela preocupação com as forças demoníacas. A<br />

Bíblia ressalta o reino soberano de Deus, o evangelho da salvação, e as exigências da<br />

graça de Deus na vida dos redimidos. Embora as Escrituras não desconsiderem as forças<br />

das trevas, enfatizam o poder de Deus para redimir e para curar. Por outro lado, as<br />

sociedades antigas, coevas das Escrituras, produziam um conceito assustador do mundo.<br />

Acreditavam que os espíritos e os semideuses, alguns mais iníquos que outros, podiam<br />

intrometer-se como queriam na vida dos seres humanos.<br />

Encantações complicadas, formas espíritas de comunicação e rituais mágicos<br />

desenvolveram-se em vários contextos cultuajs, na tentativa de outorgar ao homem<br />

comum certo controle nesse mundo ameaçador. Semelhante cosmovisão ainda pode ser<br />

encontrada nalgumas partes do mundo hoje.<br />

Em contraste com esse conceito caótico e ameaçador do mundo, existia o testemunho<br />

incomparável que o Antigo Testamento prestava a respeito de Yahweh, o Senhor. Esse<br />

Deus e Criador não somente é o Senhor de Israel, como também o Senhor dos Exércitos<br />

que reina supremo sobre o universo inteiro. Nesta vida e na morte, temos de nos entender<br />

com o Senhor, e com Ele somente. Somente Ele deve ser amado, temido e adorado (SI<br />

139; Is 43). Em Israel, os espíritos que se avultuavam nas religiões doutros povos quase<br />

caíram no esquecimento diante da luz do Senhor soberano e de sua Palavra. Por isso,<br />

nenhuma comunicação ou encantação espírita, nem ritual mágico podia ocupar algum<br />

lugar na fé de Israel (Is 8.19-22). A demonologia não desempenha nenhum papel de<br />

destaque no Antigo Testamento.<br />

Não queremos dizer com isso que não existe 'nenhum adversário satânico no Antigo<br />

Testamento.<br />

A presença de semelhante adversário é encontrada logo na tentação de Adão e Eva no<br />

Jardim do Eden (Gn l-3). Nessa ocasião, o adversário, na forma de um réptil mui sagaz,<br />

alega estar falando em nome de Deus, e, assim, induz nossos primeiros pais ao pecado.<br />

Mas observe que esse tentador é descrito apenas como uma criatura entre as demais, e<br />

não como um deus que, dalguma maneira, pudesse medir forças com o Senhor, o Criador<br />

dos céus e da terra. Adão e Eva não foram confrontados com dois deuses, sendo um bom,<br />

e o outro, mau. Pelo contrário: são levados a escolher entre o mandamento do único Deus<br />

verdadeiro, e a palavra de uma criatura insinuante, cujo único alvo era contrariar a

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