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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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do verbo 'ãtsav ("achar defeito em", "lesar", "perturbar", "afligir"). Transmite a ideia de<br />

dor, tanto física quanto emocional. A mesma palavra é empregada para descrever o juízo<br />

contra a mulher e contra o homem. Tão logo consumou-se a desobediência, ficaram<br />

estilhaçadas a beleza e a harmonia da existência. Toda pessoa que considera a Bíblia a<br />

Palavra de Deus deve reconhecer a conexão causal direta que aqui surge entre a transgressão<br />

e o sofrimento humanos. Walther Eichrodt escreve que o evento da Queda significa<br />

"cair para fora do plano que Deus criou para nosso aperfeiçoamento". A vontade de Deus<br />

para a humanidade passa a ser desafiada. 10 A Queda não se resume apenas ao fato de<br />

Adão e Eva terem a morte decretada contra si. Toda a criação passou a ser escravizada às<br />

potências hostis da morte.<br />

Era tendência em Israel ligar a doença ao pecado humano e também à ira divina.<br />

Muitas passagens bíblicas vinculam o pecado à enfermidade e, consequentemente, o<br />

perdão à cura (SI 6; 13; 22; 31; etc). Frequentemente o Antigo Testamento apresenta a<br />

aflição e a enfermidade como "consequências do pecado humano". 11<br />

Peter Craigie ressalta que, em Salmos 38.3, "o vínculo entre o pecado e o castigo é<br />

expresso mais enfaticamente no paralelismo do verso 4, onde a indignação divina e o<br />

pecado humano estão ligados entre si como um diagnóstico espiritual primário de uma<br />

doença física". Outro exemplo desse fenômeno acha-se em Salmos 107.17: "Por causa<br />

das suas iniquidades, são afligidos". Aqui, "aflição" significa "enfermidade" e demonstra<br />

que "esse versículo enfatiza a conexão entre a enfermidade e o pecado". 12<br />

Há muitos outros exemplos, no Antigo Testamento, que podemos mencionar. Uzias,<br />

rei de Judá, foi acometido de lepra por ter cometido sacrilégio (2 Cr 26.16-19). Além<br />

disso, temos a ficha clínica de Asa, em 2 Crônicas 16.11,12. Asa foi repreendido, não por<br />

ter buscado assistência médica, mas por não ter confiado em Yahweh. O texto declara que<br />

"não buscou ao Senhor, mas, antes, aos médicos". Não devemos entender essas palavras<br />

como restrição aos médicos. Pelo contrário, ressalta a importância de se confiar no Senhor<br />

e demonstra que, quando alguém está doente, deve buscar a sua ajuda. 13<br />

Embora Jesus tenha negado o dogma mecânico da retribuição, o Novo Testamento<br />

traz numerosas indicações de ocasionais conexões entre a enfermidade e o pecado. Ulrich<br />

B. Mueller, nos seus estudos sobre a enfermidade e o pecado nas Escrituras,<br />

convenceu-se de que a enfermidade pode indicar "uma perturbação no relacionamento<br />

com Deus". 14 William Lane observa que, em Marcos 2, Jesus deixa subentendido um<br />

relacionamento de causa e efeito entre a enfermidade e o pecado, quando diz a um homem<br />

que seus pecados são perdoados e manda-o levantar-se e andar. Palavras que só fazem<br />

sentido, segundo Lane, se examinadas no contexto do Antigo Testamento, onde "o<br />

pecado e a enfermidade, o perdão e a cura, frequentemente são conceitos<br />

inter-relacionados entre si". 15 Em João 5.14, Jesus adverte alguém que acaba de curar:<br />

"Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior". Parece bastante claro que a<br />

ordem: "Não peques mais" pressupõe que a enfermidade do homem fora provocada pelo<br />

seu próprio pecado. De outra forma, a ordem de Jesus não faria sentido.<br />

Não há dúvida quanto ao relacionamento entre a enfermidade e o pecado em certos<br />

casos. Esta era a opinião da Igreja, bem como a do Judaísmo. 16 Apesar disso, não é fácil<br />

determinar a natureza exata do relacionamento entre a enfermidade e o pecado nos casos<br />

individuais. Porém, o que importa é o reconhecimento de que semelhante relacionamento<br />

existia no pensamento do Judaísmo e no da Igreja Primitiva. Se o pecado leva ao<br />

sofrimento humano, nada mais natural que a Igreja Primitiva entendesse o ministério de<br />

Cristo como o alívio ao sofrimento humano, pois Ele era a resposta divina ao pecado. Os<br />

que ensinam estar a cura divina na expiação recuperam um conceito holístico - das<br />

pessoas e da obra expiadora de Cristo. T. F. Torrance sugere que a "cura milagrosa"<br />

demonstra o poder da "palavra do perdão". Nisto também se revela "que o perdão<br />

alcançou sua plena realidade na cura divina e na obra criadora de Deus sobre a pessoa<br />

V

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