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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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em Deus o "horrível privilégio" de não ter "condições de perdoar por amor". Leon Morris<br />

assim expressa o consenso geral dos evangélicos: "O ensino bíblico consistente é que o<br />

pecado do homem tem incorrido na ira de Deus... evitada pela oferta expiadora de Cristo.<br />

Deste ponto de vista, sua obra salvífica é corretamente chamada propiciação". Nem a<br />

Septuaginta nem o Novo Testamento esvaziaram o pleno significado de hilaskomai como<br />

"propiciação". 55<br />

A Bíblia abandona a crueza frequentemente associada à propiciação nos rituais<br />

pagãos. O Senhor não é uma divindade malévola e caprichosa, cuja natureza permanece<br />

tão inescrutável que nunca se sabe como Ele agirá. Mas sua ira não deixa de ser uma<br />

realidade. A Bíblia, no entanto, ensina que Deus, em seu amor, misericórdia e fidelidade<br />

às suas promessas, forneceu os meios pelos quais a sua ira seria aplacada. No caso do<br />

ensino neotestamentário, Deus não somente forneceu os meios como também veio a<br />

sê-los. 1 João 4.10 diz: "Nisto está a caridade: não em que nós tenhamos amado a Deus,<br />

mas em quem ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação [gr. hilasmos] pelos<br />

nossos pecados". 56<br />

Todos os léxicos demonstram que kipper e hilaskomai significam "propiciar" e<br />

"expiar". A diferença está na interpretação de seu significado nas matérias bíblicas que<br />

tratam da expiação. Se aceitarmos o que a Bíblia diz a respeito da ira de Deus, uma<br />

solução possível se apresenta. As palavras têm uma referência vertical e uma horizontal.<br />

Quando o contexto focaliza a expiação em relação a Deus, falam da propiciação. Mas<br />

significam expiação quando o enfoque recai em nós e em nosso pecado. Não escolhemos<br />

"ou/ou", mas "tanto/ quanto". O contexto histórico e literário determina o significado<br />

apropriado. 57<br />

Uma pergunta pode surgir. Se Jesus suportou a penalidade da nossa culpa ao tomar<br />

sobre si a ira de Deus e cobrir o nosso pecado, teria sofrido exatamente as mesmas<br />

consequências e o mesmo tipo e grau de castigo que aqueles em favor dos quais morreu<br />

sofreriam cumulativamente? Afinal de contas, Ele era um só, e nós somos muitos. Assim<br />

como a muitíssimas interrogações desse tipo, não há uma resposta definitiva. A Bíblia<br />

não faz nenhuma tentativa nesse sentido. Lembremo-nos, no entanto, que não temos na<br />

cruz um evento mecânico ou uma transação comercial. A obra da salvação atua no plano<br />

espiritual, e não há analogias para explicar tudo isso.<br />

Primeiramente, o sofrimento, pela sua própria natureza, não está sujeito a cálculo<br />

matemático nem a ser pesado na balança. Em certo sentido, sofrer o pior caso de braço<br />

quebrado é sofrer todos os casos. Morrer uma só morte excruciante e agonizante é morrer<br />

todas elas. Em segundo lugar, é preciso relembrar o caráter e a natureza do sofrimento<br />

pessoal. Cristo era perfeito em santidade e, portanto, não possuía nenhum senso de culpa<br />

ou remorso pessoal, que teríamos ao saber que estávamos sofrendo o justo castigo pelos<br />

nossos pecados. Há algo de heróico na incisiva repreensão do ladrão da cruz ao seu<br />

companheiro de crimes: "Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E<br />

nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas<br />

este nenhum mal fez" (Lc 23.40,41). A perfeição de Cristo não lhe diminuiu o sofrimento,<br />

e até pode tê-lo intensificado, por saber Ele que era imerecido. Sua oração, pedindo que<br />

não lhe fosse necessário "beber o cálice" não era um gesto teatral. Ele bem sabia o<br />

sofrimento que o esperava. O fato de Ele ter sofrido como Deus certamente lança luz<br />

sobre a questão. 58<br />

A RECONCILIAÇÃO<br />

Diferente de outros termos bíblicos e teológicos, "reconciliação" aparece em nosso<br />

vocabulário comum. E um termo tirado do âmbito social. Todo relacionamento<br />

interrompido clama por reconciliação. O Novo Testamento ensina com clareza que a obra<br />

salvífica de Cristo é um trabalho de reconciliação. Pela sua morte, Ele removeu todas as

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