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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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inteira". 17 A restauração da comunhão com Deus é o que mais importa, e essa restauração<br />

resulta não somente na cura espiritual, mas, muitas vezes, também na cura física.<br />

Outro aspecto que exige nossa atenção é o relacionamento entre o demonismo e a<br />

enfermidade. Há bastante evidência nas Escrituras, especialmente nos evangelhos, de que<br />

algumas doenças têm origem demoníaca. Em Lucas 13.11-17, encontramos uma mulher<br />

mantida presa por Satanás. O texto (v. 11) a descreve como "uma mulher que tinha um<br />

espírito de enfermidade", expressão que traduz fielmente o que está escrito no grego:<br />

gunê pneuma echousa astheneias. Isso não significa, entretanto, que todas as<br />

"enfermidades, assim como a possessão demoníaca, fossem atribuídas a espíritos,<br />

expressando o conceito de um poder superior que mantém o domínio". Jesus perguntou<br />

retoricamente: "Não convinha soltar desta prisão... esta filha de Abraão?" Assim, Ele<br />

deixou subentendido que a vontade de Deus para ela era a sua cura. O verso 16 pode ser<br />

assim traduzido: "Ela não deve ser mantida presa por mais um momento, pois, olhem: ela<br />

já sofre há 18 anos". 18 Não há dúvidas de que, neste caso, Satanás era a causa da<br />

enfermidade. E Jesus, então, lançou-se contra aquele sofrimento físico.<br />

Em outra ocasião, um mudo foi levado a Jesus (Mt 9.23-34). Não se menciona a fé ou<br />

qualquer contato direto com o enfermo. Jesus simplesmente expulsou o demônio. Isso<br />

"indica que o caso era considerado em primeiro lugar assunto de possessão demoníaca,<br />

tendo a mudez como 'subproduto'". Há outros exemplos desse tipo nos evangelhos, mas<br />

este caso deve bastar para demonstrar que uma enfermidade pode ser o resultado da<br />

possessão ou assédio de demônios. 19<br />

Devemos discordar, no entanto, daqueles que tomam por certo que "a interpretação<br />

cristã das curas baseia-se na suposição, bastante divulgada, de que a enfermidade resulta<br />

de possessão demoníaca". 20 Esta é uma simplificação exagerada. Há muitos exemplos de<br />

demônios provocando doenças, mas também muitos casos em que nenhuma conexão<br />

desse tipo é feita ou sugerida. A ideia de que todas as enfermidades são provocadas por<br />

demônios certamente não é ensinada por Jesus, nos evangelhos; nem por Paulo, nas<br />

Epístolas; nem por qualquer um dos escritores neotestamentários.<br />

Há exemplos de permissão divina a Satanás para infligir enfermidades aos servos de<br />

Deus, na forma de ação disciplinar ou instrução, como nos casos de Jó e de Paulo. Mesmo<br />

assim, tais casos não devem ser considerados formas de demonização, 21 tendo em vista<br />

que o inimigo só consegue tocar o corpo, não a alma. Não se justifica, portanto, uma<br />

doutrina de demonização com base na experiência de Jó, tampouco em 1 Coríntios 11.30,<br />

onde os crentes enfermam em razão da atuação disciplinar do Senhor. "E provável que o<br />

surto de enfermidades e mortes que recentemente acometera os coríntios esteja sendo<br />

considerado aqui como expressão do julgamento divino à comunidade inteira". 22<br />

A Bíblia não dá a mínima indicação de que o crente enfermo possa estar<br />

experimentando alguma forma de "possessão demoníaca". Alguns sugerem que 2<br />

Coríntios 12.7 seja exemplo de crente acometido por doença física mediante a atividade<br />

das forças demoníacas. Mas claro está que o caso não envolvia possessão demoníaca nem<br />

era resultado de pecado. Pelo contrário, "fazia parte da providência de Deus, para garantir<br />

que seu servo continuasse dependendo dEle". 23<br />

É fato significativo que a palavra grega daimonizomaí , seja empregada 13 vezes no<br />

Novo Testamento, mas nunca para descrever a situação de um crente. A palavra "designa<br />

um estado de enfermidade cuja explicação é um demônio habitando na pessoa<br />

('possessão')". 24 Decididamente, há casos de opressão demoníaca e de crentes que se<br />

dedicam à luta contra as potestades espirituais das trevas, mas a linguagem da<br />

demonização é reservada exclusivamente aos irregenerados.

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