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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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"incidental" à intenção primária na narrativa. Referindo-se ao episódio em Samaria - o<br />

que ele considera o mais forte apoio aos pentecostais - Fee sugere que Lucas não estava<br />

"pretendendo ensinar algo distinto da conversão e subsequente a ela." 31<br />

A questão inteira, portanto, gira em torno da intenção do autor. Por um lado,<br />

estudiosos como Hoekema, Stott e Fee sustentam que o autor neotestamentário, ao<br />

escrever matéria histórica, não pretende ensinar doutrinas e práticas normativas para a<br />

Igreja em todos os tempos. Dizem que os escritos históricos são "história descritiva da<br />

Igreja Primitiva" e que, nesta categoria, "não devem ser transformados em experiência<br />

normativa para a continuada existência da Igreja". Por isso, segundo Fee, o historiador<br />

Lucas mostra, a respeito do Espírito Santo, simplesmente o que era a experiência<br />

"normal" dos cristãos do século I. Qualquer "padrão recorrente da vinda (ou presença) do<br />

Espírito" revelado por Lucas pode se repetido. Ou seja, o modelo original de Lucas é<br />

"algo que faríamos bem em aplicar como padrão à nossa vida". Mesmo assim, tal padrão<br />

não deve ser imposto como "normativo" - com a injunção de "ser obedecido por todos os<br />

cristãos em todos os tempos e em todos os lugares". A posição de Fee baseia-se na sua<br />

crença de que a matéria histórica não tem valor didático, isto é, não visa a formulação de<br />

doutrina e experiência cristãs. 32<br />

Por outro lado, estudiosos como Roger Stronstad e William W. Menzies desenvolvem<br />

argumentos sólidos em favor da posição oposta. Consideram bastante arbitrária a posição<br />

de Hoekema, Stott e Fee - de que a matéria histórica não tem valor didático. Stronstad<br />

reconhece que a obra de Lucas é narrativa histórica, mas nega a suposição de que esteja<br />

destituída de intenções instrutivas. Menzie concorda: "O gênero literário de Atos não é<br />

meramente histórico, mas também intencionalmente teológico". Ou seja, Lucas tinha a<br />

intenção de ensinar doutrina, prática e experiência cristãs. 33<br />

Em defesa de seu argumento, Stronstad observa que "Lucas e Atos não são dois livros<br />

separados... Pelo contrário, são realmente duas metades de uma única obra, e devem ser<br />

interpretadas como uma unidade". A intenção de uma metade é compartilhada pela outra.<br />

Em seguida, esforça-se para demonstrar que o modo de Lucas desenvolver a sua matéria,<br />

tanto no seu evangelho quanto em Atos, indica intenção de ensinar doutrina e prática<br />

normativas. Lucas empregava suas origens documentárias e desenvolveu sua matéria de<br />

modo , semelhante aos historiadores veterotestamentários e interbíblicos. E assim fez,<br />

segundo Stronstad, "especificamente para introduzir temas-chaves teológicos" e "para<br />

estabelecer, ilustrar e reforçar aqueles temas mediante episódios históricos específicos".<br />

Stronstad continua a reforçar o seu argumento e acaba concluindo: "O propósito de Lucas<br />

era didático, de catequese ou instrução, e não meramente informativo, ao contar a história<br />

da origem e expansão do Cristianismo .<br />

Estreitamente relacionada à intenção do autor está a questão de como os intérpretes<br />

atuais devem entendê-la. Surge aqui a relativa posição da hermenêutica científica e da<br />

pragmática. Fee sustenta que a pragmática pentecostal, que baseia doutrinas e<br />

experiências em precedentes históricos bíblicos, é contrária à "hermenêutica científica".<br />

A maioria dos intérpretes bíblicos reconhece, no entanto, que a boa hermenêutica não é<br />

científica ou pragmática, mas as duas coisas. Em sua obra-padrão, A. Berkeley Mickelsen<br />

escreve: "O termo 'hermenêutica' designa tanto a ciência quanto a arte da interpretação".<br />

Adverte contra "uma abordagem mecânica e racionalista" e diz: "A abordagem tipo regra<br />

mecânica à hermenêutica constrói ideias errôneas desde o início". 35 A exegese científica<br />

só acompanha o intérprete até certo ponto. Depois, chega-se à altura em que certo grau de<br />

hermenêutica pragmática é necessário ao processo.<br />

Certamente, quanto às advertências de Fee contra a pragmática que desconsidera ou<br />

rejeita a abordagem científica, pelo menos nesse aspecto merecem aceitação os seus<br />

conselhos.<br />

Devemos notar, no entanto, que o relacionamento entre a hermenêutica científica e a<br />

pragmática é de tensões, e não de antíteses. Logo, a prática de transferir a precedência

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