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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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"Tertuliano tinha de... estabelecer a divindade verdadeira e completa de Jesus... sem criar<br />

dois deuses... E considerando o sucesso que conseguiu nesse aspecto, deve ser<br />

reconhecido como o pai da doutrina eclesiástica da Trindade". 44<br />

Tertuliano torna explícito o conceito de uma "Trindade econômica" (semelhante ao<br />

conceito de Irineu, mas com uma definição mais explícita). Enfatiza a unidade de Deus,<br />

ou seja: que existe uma só substância divina, um só poder divino - sem separação,<br />

divisão, dispersão ou diversidade - há, porém, uma distribuição entre as funções, uma<br />

distinção entre as Pessoas.<br />

ORÍGENES E A ESCOLA ALEXANDRINA<br />

No século II a.C, Alexandria, no Egito, substituiu Atenas como o centro intelectual do<br />

mundo greco-romano. Posteriormente, academias cristãs floresceram nessa cidade.<br />

Alguns dos maiores estudiosos da Igreja antiga pertenciam à escola alexandrina.<br />

A Igreja avançou ainda mais através do labirinto teológico da formulação doutrinária<br />

com o trabalho do célebre Orígenes (c. de 185-254). A explicação sobre a eternalidade do<br />

Logos pessoal foi feita pela primeira por Orígenes. 45 Com ele, começou a emergir a<br />

doutrina ortodoxa da Trindade, embora não fosse cristalizada na sua formulação<br />

(progredindo além do conceito "econômico" de Tertuliano) a não ser no começo do<br />

século IV no Concílio de Nicéia (325 d.C).<br />

Opondo-se aos monarquianos (também chamados unitarianos), Orígenes propôs sua<br />

doutrina da geração eterna do Filho (chamada filiação). Ligava essa geração à vontade<br />

do Pai, e assim subentendia a subordinação do Filho ao Pai. A conclusão da doutrina da<br />

filiação aconteceu não somente pelas designações "Pai" e "Filho", mas também pelo<br />

fato de o Filho ser chamado, de modo consistente, "o Unigénito" (Jo 1.14, 18; 3.16, 18; 1<br />

Jo 4.9). 46<br />

Segundo Orígenes, o Pai gera eternamente o Filho e, portanto, nunca está sem Ele. O<br />

Filho é Deus, porém Ele subsiste (segundo a linguagem teológica posterior, que se<br />

relaciona com a existência de Deus) como uma Pessoa distinta do Pai. O conceito<br />

oferecido por Orígenes da geração eterna preparou a Igreja para entender que a Trindade<br />

subsiste em três Pessoas em vez de consistir em três partes.<br />

Orígenes deu expressão teológica ao relacionamento entre o Pai e o Filho<br />

(posteriormente afirmada no Concílio de Nicéia) como homoousios to patrí: "de uma<br />

só substância [ou essência] com o Pai". 47 O modo de se entender a personalidade,<br />

essencial para a fórmula trinitariana ortodoxa, ainda era imprecisa. O termo latim<br />

persona, que significa "papel" ou "ator", não ajudava no esforço teológico de se<br />

entender o Pai, o Filho e o Espírito como três Pessoas, em vez de meros papéis diferentes<br />

de Deus. O conceito teológico de hypostases, ou seja: da distinção de Pessoas dentro da<br />

Deidade (em contraste com a unidade de substância ou de natureza dentro da Deidade,<br />

chamada "consubstancialidade" e que se relaciona com a homousia), permitiu a<br />

formulação paradoxal da teologia trinitariana.<br />

A doutrina de Orígenes a respeito da geração eterna do Filho era uma polêmica contra<br />

a noção de que houvera um tempo quando o Filho não existia. Seu conceito da<br />

"consubstancialidade" ressaltava a igualdade entre o Filho e o Pai. No entanto, surgiram<br />

dificuldades no pensamento de Orígenes por causa do conceito da subordinação<br />

apresentado na linguagem do Novo Testamento, e da ideia do papel de submissão do<br />

Filho em relação ao Pai, embora a plena divindade do Filho fosse ainda mantida. O que é<br />

crítico para a nossa compreensão "é entender a subordinação no sentido de que podemos<br />

chamar de econômico", e não num sentido que se relacione com a natureza da própria<br />

existência de Deus. Por isso: "O Filho submete-se à vontade do Pai e executa o seu plano<br />

(oikonomia), mas não é por isso inferior ao Pai na sua natureza". 48<br />

Orígenes era inconsistente na sua formulação do relacionamento entre o Pai e o Filho,<br />

e às vezes apresentava o Filho como um tipo de deidade de segunda categoria, distinto do

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