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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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Ninguém entenda que estamos ensinando haver necessariamente um relacionamento<br />

entre a enfermidade e o pecado no individual. Jesus repudiou essa hipótese leviana que,<br />

segundo parece, circulava entre os rabinos de sua época (ver João 9.1-3). O que a Bíblia<br />

afirma realmente é que, ao entrar em cena o pecado, a humanidade começou a sofrer. De<br />

modo que, em última análise, o sofrimento e a enfermidade humanos resultam do pecado.<br />

Logo, a expiação providenciada por Cristo é muito mais que a reconciliação dos<br />

"aspectos religiosos do próprio-eu". Sobre a base da obra de Cristo como Salvador há<br />

redenção para a pessoa inteira. 54<br />

H. D. MacDonald escreve: "No Antigo Testamento 'ser salvo' tem o significado geral<br />

primário de ser livre ou preservado de um perigo ou de uma doença; o resultado é experimentar<br />

a segurança ou a saúde". 55 È verdade que os profetas, mais tarde, aplicam-se mais<br />

aos aspectos espirituais e morais da salvação (ver Is 58.13,14; 60.10-22; Jr 30.10-24). Por<br />

outro lado, estabelecer uma dicotomia rígida entre o aspecto espiritual e o físico com base<br />

nas Escrituras é desrespeitar a cosmovisão representada por elas. Ladd afirma que a<br />

salvação, conforme definida no Novo Testamento, consiste na "restauração da comunhão<br />

entre Deus e o homem" e na "redenção do corpo". 56 A salvação realizar-se-á plenamente<br />

com a ressurreição e arrebatamento dos crentes, quando Jesus voltar. Porém, mesmo<br />

agora, a realidade do Reino de Deus já irrompeu, trazendo-nos, nestes tempos, a salvação<br />

prometida. Irineu, um dos pai da Igreja, acreditava que a salvação "salva o corpo, mas não<br />

nos tira do corpo". 57 Neste século, o Movimento Pentecostal tem sustentado de modo<br />

consistente esse conceito bíblico da salvação.<br />

Um dos argumentos a favor de estar a cura na expiação é a promessa da ressurreição<br />

do nosso corpo. O túmulo vazio subentende que um "Cristo inteiro morreu por nós e que<br />

é um Cristo inteiro que vive para sempre. Ele veio nos redimir como pessoas inteiras, não<br />

apenas uma parte da nossa pessoa". 58<br />

A crença na cura como parte da expiação firma-se em bases exegéticas sólidas.<br />

Provavelmente dois dos textos mais importantes para se entender o relacionamento entre<br />

a obra expiadora de Cristo e a cura divina sejam Isaías 53.4,5 e Mateus 8.17. Na Igreja<br />

Primitiva, a frase "pelas suas pisaduras, fomos sarados" (Is 53.5) foi a base da chamada<br />

"tradição de cura". 59 Porém representa mais que uma tradição. O modelo hermenêutico<br />

com o qual devemos trabalhar toma por certo que a interpretação neotestametária de um<br />

texto do Antigo Testamento é autorizada. Isto significa que a intenção de um texto<br />

veterotestamentário é definida teologicamente, não somente pelo seu contexto histórico,<br />

mas também pelo seu uso no Novo Testamento. Há um tipo de interpretação<br />

frequentemente identificado como sensus plenior, ou seja: um significado mais profundo,<br />

pretendido pelo próprio Deus. E, na teologia cristã, a ênfase recai no modo como ele é<br />

entendido no Novo Testamento.<br />

Refere-se Isaías 53.4 à cura física? Herbert Wolf, em sua obra sobre Isaías, diz:<br />

"'Enfermidades' é primariamente uma referência aos pecados, embora o termo também<br />

possa referir-se às doenças físicas". 60 Wolf inverteu a ordem. A palavra "enfermidades"<br />

refere-se primeiro à doença física e depois ao pecado. E uma tradução do termo hebraico<br />

choli. Esta palavra é traduzida de várias maneiras no Antigo Testamento, e todas possuem<br />

alguma conotação de enfermidade física. A outra palavra-chave do texto, traduzida como<br />

"dores" é makh'ov, também empregada no tocante ao sofrimento causado pelos feitores<br />

de escravos no Egito (Êx 3.7). Logo, não é possível limitar Isaías 53.4 à cura espiritual.<br />

As palavras empregadas no verso 4 de Isaías 53, bem como "paz" e "sarados", no verso 5,<br />

falam da devastação física e psicológica do pecado que Jesus suportou em nosso lugar.<br />

Antes da Queda, a situação no Jardim era de paz (heb. shalom), uma experiência de saúde<br />

e bem-estar - totalmente isenta de sofrimentos - e de paz com Deus. O desejo de Deus pela<br />

restauração de shalom pode ser percebido no texto do Servo Sofredor (Is 53.5). A obra de<br />

V

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