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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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"Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós" (Jo 15.16). 73 Paulo deixa bem<br />

claro esse fato em Romanos 9.6-24, ao declarar que Deus escolhera apenas os<br />

descendentes de Isaque para serem seus filhos (vv. 7-8) e que, antes do nascimento, Ele<br />

escolheu Jacó, e não o seu gêmeo, Esaú, "para que o propósito de Deus, segundo a<br />

eleição, ficasse firme" (v. II). 74<br />

Precisamos notar as ênfases de Paulo. Uma delas é que ser filho de Deus depende da<br />

livre e soberana expressão de sua misericórdia, e não de algo que sejamos ou façamos.<br />

Paulo enfatiza a misericórdia divina que inclui os gentios juntamente com os judeus (Rm<br />

9.24-26; 10.12). O calvinismo , entende que esse trecho bíblico afirma a doutrina de uma<br />

escolha arbitrária de Deus, que não leva em conta a responsabilidade e participação<br />

humanas. Essa, porém, não é a única possibilidade. Na mesma seção bíblica (Rm 9-11),<br />

surgem evidências da participação e responsabilidade humanas (cf. 9.30-33;<br />

10.3-6,9-11,13,14,16; 11.20,22,23). Paulo afirma: "Deus, pois, compadece-se de quem<br />

quer e endurece a quem quer" (9.18). Diz ainda que Israel havia experimentado "o<br />

endurecimento em parte" (11.25), mas o contexto parece relacioná-lo à sua<br />

desobediência, obstinação e incredulidade (10.21; 11.20). Além disso, Paulo declara que<br />

a razão por que "Deus encerrou a todos debaixo da desobediência" é "para com todos usar<br />

de misericórdia" (11.32). Portanto, não somos forçados a uma única conclusão, isto é, a<br />

eleição incondicional. 75<br />

Qualquer estudo sobre a eleição deve sempre começar por Jesus. E toda conclusão<br />

teológica que não fizer referência ao coração e aos ensinos do Salvador, seja tida<br />

forçosamente por suspeita. Sua natureza reflete o Deus que elege, e em Jesus não<br />

achamos nenhum particularismo. NEle, achamos o amor. Por isso, é relevante que em<br />

quatro ocasiões Paulo vincule o amor à eleição ou à predestinação: "Sabendo, amados<br />

irmãos, que a vossa eleição [gr. eklogên] é de Deus" (1 Ts 1.4). "Como eleitos [gr.<br />

eklektoi] 16 de Deus, santos e amados..". (Cl 3.12) - nesse contexto, amados por Deus.<br />

"Como também nos elegeu [gr. exelaxato] nele antes da fundação do mundo... e nos<br />

predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o<br />

beneplácito [gr. eudokia] de sua vontade" (Ef 1.4,5). Embora a intenção divina não<br />

esteja ausente nesta última palavra grega (eudokia), ela inclui também um sentido de<br />

calor que não fica tão evidente em thelõ ou boulomai. A forma verbal aparece em<br />

Mateus 3.17, onde o Pai diz: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo [gr.<br />

eudokêsa]".<br />

Finalmente, Paulo diz: "Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos<br />

amados do Senhor, por vos ter Deus elegido [gr. heilato] desde o princípio para a<br />

salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade" (2 Ts 2.13). O Deus que elege é o<br />

Deus que ama, e Ele ama o mundo. Tornar-se-ia válido o conceito de um Deus que<br />

arbitrariamente escolhe alguns e desconsidera os demais, deixando-os ir à perdição<br />

eterna, diante de um Deus que ama o mundo?<br />

Em Jesus vemos também a presciência. Ele sabia que morreria numa cruz (Jo 12.32) e<br />

conhecia alguns pormenores de sua morte (Mc 10.33,34). Sabia que Judas o trairia (Jo<br />

13.18-27) e que Pedro o negaria (Mc 14-19-31). Mas certamente não devemos atribuir<br />

causalidade à sua presciência. Depois de curado o coxo, Pedro declarou que os judeus em<br />

Jerusalém haviam agido na ignorância ao crucificar Jesus, mas que também a morte de<br />

Cristo cumprira o que Deus falara através dos profetas (At 3.17,18). Deus não os levou a<br />

crucificar Jesus, a culpa ainda era deles (At 4.27,28). 77 Portanto, quando a Bíblia liga<br />

nossa eleição à presciência (1 Pe 1.2) não devemos ver nisso a causalidade. Deus não<br />

precisa predestinar para saber de antemão. A declaração, em Romanos 8.29, de que os<br />

que Deus "dantes conheceu, também os predestinou" não apoia semelhante ideia: a<br />

presciência seria um termo sem significado.<br />

Não poderíamos considerar a presciência e a predestinação como dois lados de uma<br />

mesma moeda? O lado de cima, a presciência, olha em direção a Deus, refletindo o que

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