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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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Testamento.<br />

Outra maneira de entender o caráter da Igreja do Novo Testamento é examinando o<br />

seu relacionamento com o Reino de Deus (gr. basileia tou theou). O Reino era um dos<br />

principais ensinos de Jesus durante seu ministério terrestre. E, na realidade, embora os<br />

evangelhos registrem apenas três menções específicas à igreja (ekklêsia, todas<br />

declarações de Jesus, registradas em Mt 16 e 18), estão repletos de ênfases ao Reino.<br />

O termo basileia ("reino") é usualmente definido como o governo de Deus, a esfera<br />

universal do seu domínio. Seguindo esse modo de entender, alguns fazem distinção entre<br />

Reino e Igreja. Consideram que o Reino inclui todas as criaturas celestiais não caídas (os<br />

anjos) e os redimidos entre a raça humana (antes e depois dos tempos de Cristo). 26 Por<br />

contraste, a Igreja consiste mais especificamente de seres humanos regenerados mediante<br />

a obra expiadora de Cristo.<br />

Os que defendem tal distinção acreditam também que o Reino de Deus transcende o<br />

tempo e tem a mesma duração que o Universo, ao passo que a Igreja tem um ponto inicial<br />

específico e também terá um ponto culminante específico, na segunda vinda de Cristo.<br />

Partindo-se dessa perspectiva, portanto, o Reino consiste nos redimidos de todos os<br />

tempos (os santos do Antigo e do Novo Testamento), enquanto a Igreja consiste naqueles<br />

que foram redimidos a partir da obra completa de Cristo (sua crucificação e ressurreição).<br />

De conformidade com esse raciocínio, a pessoa pode ser membro do Reino de Deus sem<br />

pertencer à Igreja (por exemplo, os patriarcas Moisés e Davi), mas quem é membro da<br />

Igreja pertence simultaneamente ao Reino. A medida que mais indivíduos se convertem a<br />

Cristo e se tornam membros da Igreja, somam-se também ao Reino, que assim cresce.<br />

Outros interpretam de modo diferente a distinção entre Reino e Igreja. George E.<br />

Ladd entendia que o Reino era o reinado de Deus, e a Igreja, por contraste, a esfera do<br />

domínio divino - as pessoas sujeitas ao governo de Deus. De modo semelhante ao que<br />

distinguem entre Reino e Igreja, Ladd achava que não se deveria equiparar os dois. Pelo<br />

contrário, o Reino cria a Igreja, e a Igreja dá testemunho do Reino. Além disso, a Igreja é<br />

instrumento e depositária do Reino, como também a forma que o Reino ou reinado de<br />

Deus assume na Terra: uma manifestação concreta do governo soberano de Deus entre a<br />

raça humana. 27<br />

Outros distinguem Reino de Deus e Igreja por acreditarem ser aquele primariamente<br />

um conceito escatológico, ao passo que esta possui uma identidade mais temporal e presente.<br />

Louis Berkhof considera que a ideia bíblica primária do Reino é o governo de Deus<br />

"reconhecido nos corações dos pecadores mediante a poderosa influência regeneradora<br />

do Espírito Santo". Esse governo já é exercido na Terra, em princípio ("a realização<br />

presente dele é espiritual e invisível"), mas não o será de modo completo antes da<br />

segunda vinda visível de Cristo. Em outras palavras, Berkhof defende um aspecto de<br />

"já/ainda não" operando no relacionamento entre o Reino e a Igreja. Por exemplo: Jesus<br />

enfatizava a realidade presente e o caráter universal do Reino, concretizados de modo<br />

inédito mediante seu próprio ministério. Além disso, Ele oferecia uma esperança futura: o<br />

Reino que viria em glória. Nesse aspecto, Berkhof não fica longe das posições teológicas<br />

declaradas supra, que descrevem o Reino em termos mais amplos que a Igreja. O Reino<br />

(palavras dele) "visa nada menos que o total controle de todas as manifestações da vida.<br />

Representa o domínio de Deus em todas as esferas da atividade humana". 28<br />

O PROPÓSITO DA IGREJA<br />

O capítulo 17 deste livro trata da missão da Igreja. Antes de concluirmos esta seção,<br />

que fala da natureza da Igreja, vale a pena fazer algumas observações a respeito do<br />

propósito para o qual a Igreja foi chamada à existência. O propósito do Senhor não era<br />

que a Igreja apenas existisse como finalidade em si mesma, para se tornar, por exemplo,

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