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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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acreditavam que, pesquisando até para além das "formas" que a Igreja usava para<br />

descrever Jesus no querigma, 8 poderiam pelo menos tentar descobrir o Jesus histórico.<br />

Afirmavam não serem confiáveis os evangelhos sinóticos, como apresentação do Jesus<br />

histórico, por estarem estes obscurecidos pelo querigma.<br />

Bultmann desfez os evangelhos sinóticos em unidades individuais, tentando<br />

demonstrar sua formação paulatina, "a partir das condições e necessidades bem<br />

específicas da vida, de onde surgiu um estilo muito específico com suas formas e<br />

categorias apropriadas". 9 Segundo ele, a Igreja Primitiva criara conceitos sobre a natureza<br />

e obra de Jesus diferentes do modo de Ele próprio entender as coisas. Bultmann sugeriu<br />

que os Evangelistas "impuseram sobre a matéria tradicional a sua própria crença no<br />

messiado de Jesus". 10 Acreditava que, trabalhando no século XX, com ferramentas<br />

racionalistas e históricas, conseguiria separar o Jesus histórico do Cristo proclamado pela<br />

Igreja. 11 As deficiências da abordagem de Bultmann começaram a ser apontadas por<br />

alguns de seus próprios alunos, Ernst Kãsemann e Gunther Bornkamm.<br />

Ernst Kãsemann é usualmente considerado o iniciador da "nova busca do Jesus<br />

histórico", proposta por um grupo de estudiosos referidos como pós-bultmanianos.<br />

Argumentava que os escritores do Novo Testamento atribuíam a mensagem que<br />

pregavam ao Jesus histórico, e que assim o investiam "sem a mínima dúvida, com<br />

autoridade preeminente". 12<br />

Outro representante dessa escola de pensamento, Gunther Bornkamm, 13 escreveu que<br />

Jesus não tinha consciência messiânica e que os títulos cristológicos lhe foram aplicados<br />

pelos cristãos depois da ressurreição. Seguiram-se variações desse tema. Gerhard<br />

Ebeling 14 declarou que Jesus era conhecido como o Filho de Deus já antes da<br />

ressurreição. Ernst Fuchs 15 levantou a questão da legitimidade teológica dessa busca,<br />

sustentando que a solução do problema está em ver Jesus como o exemplo da fé em Deus.<br />

Quando o cristãos seguem o seu exemplo, o Cristo da fé é o Jesus histórico.<br />

Vários estudiosos têm confiado mais no relacionamento entre o Jesus da História e o<br />

Cristo da fé. Nils Dahl 16 argumenta de que a investigação histórica de Jesus tem<br />

legitimidade teológica e pode resultar em entendê-lo melhor, principalmente diante das<br />

tendências da Igreja de criá-lo à sua própria imagem. Charles H. Dodd argumenta que os<br />

títulos cristológicos realmente provêm do ministério terrestre de Jesus, e que este, quando<br />

foi submetido ao tribunal romano, considerava-se o Messias. 17 Finalmente, Joachim<br />

Jeremias defende que é necessário basear o Cristianismo nos ensinos de Jesus conforme<br />

relatados nos evangelhos, que ele acredita fidedignos. O mesmo teólogo demonstra ainda<br />

que um dos perigos da abordagem da crítica da forma é basear o Cristianismo numa<br />

forma abstrata de Cristo, e não na realidade histórica que a teoria promete. 18<br />

As QUESTÕES DA METODOLOGIA<br />

Em qualquer estudo responsável, as metodologias usadas para analisar os dados e<br />

produzir conclusões devem ser submetidas a cuidadoso escrutínio. Os métodos assim<br />

examinados oferecerão um estudo mais sólido do que os menos criteriosos. O estudo da<br />

cristologia sugere pelo menos algumas áreas para marcar as fronteiras da metodologia.<br />

A frase "fazer versus ser" levanta as questões da cristologia funcional versus a<br />

ontológica. 19 Uma cristologia que primariamente define Jesus por aquilo que Ele fez é<br />

funcional. E é ontológica a que primariamente define Jesus por quem Ele é.<br />

Tradicionalmente, as duas abordagens alinham-se a dois tipos de teologia. A cristologia<br />

funcional 20 tem sido proposta, em grande medida, por teólogos e exegetas bíblicos, e a<br />

ontológica 21 , pelos teólogos sistemáticos. A cristologia funcional ressalta a ação de Jesus<br />

na Terra, como homem, e tende a enfatizar sua humanidade, às custas de sua divindade. 22<br />

A cristologia ontológica ressalta a existência eterna de Deus Filho, e tende a enfatizar sua

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