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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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Em contraste com a teoria do resgate há o ensino bíblico de que a posição e a atuação<br />

de Satanás baseiam-se numa mentira (Jo 8.44). Não há nenhuma legitimidade que Deus<br />

deva reconhecer, e com que Ele deva se conformar! O triunfo da graça divina sobre as<br />

forças das trevas não concede a elas nenhuma posição legítima e digna de respeito, e<br />

declara que Satanás, como o "deus deste século," tem uma posição ilegítima que lhe foi<br />

concedida pela cegueira e rebelião da própria humanidade (2 Co 4.4). Realmente, um<br />

"pagamento" foi feito por Cristo na cruz, não a Satanás, mas a Deus, em favor da<br />

humanidade. 71<br />

Nossa resposta mais sábia às reivindicações falsas e enganosas de Satanás é negá-las;<br />

e devemos fazê-lo somente através da "olhadela" rápida e penetrante que o teólogo Karl<br />

Barth lhes deu na luz maior da graça e verdade de Deus. Parecer haver, contudo, uma<br />

pressuposição oculta entre muitos participantes dos ministérios de libertação no sentido<br />

de que Satanás somente pode ser derrotado por aqueles que melhor o conhecem. Noutras<br />

palavras: quanto mais mistérios pudermos desvendar a respeito dos demônios, tanto mais<br />

poderemos controlá-los e derrotá-los. Nesses casos, entende-se que a libertação é o<br />

resultado de um conhecimento secreto (gnõsis) que pessoas fora do movimento da<br />

libertação não possuem. Especulações muito complexas são feitas a respeito da<br />

organização e das características dos demônios e de como se relacionam com os governos<br />

humanos e as vidas individuais. Práticas primorosas de "amarrar" as potências<br />

demoníacas podem ser usadas contra elas, uma vez compreendidas as suas verdadeiras<br />

posições e funções no mundo.<br />

Por outro lado, ao lermos a Bíblia, percebemos como é notável a total ausência de<br />

semelhantes especulações e práticas. A Bíblia encoraja-nos a resistir às forças<br />

enganadoras das trevas, e não estudá-las e amarrá-las. 72 Nenhum esforço é feito na Bíblia<br />

para levar-nos a conhecer melhor o diabo. O enfoque exclusivo recai em conhecer melhor<br />

a Deus, resistindo, ao mesmo tempo, quaisquer tentativas de Satanás de obter a nossa<br />

atenção. Submeter-se a Deus e resistir ao diabo é o conselho que Tiago nos deu (Tg 4.7).<br />

Certamente não devemos ignorar a existência do diabo. Mas qualquer atenção que a<br />

ele prestarmos não deve passar de nossa negação quanto as suas reivindicações à luz do<br />

enfoque sobre as reivindicações divinas. A Bíblia não especula, nem dá muitas<br />

informações a respeito de Satanás e dos demônios. Não existe aí muita coisa para<br />

satisfazer a nossa curiosidade. Há indícios de haver ocorrido uma queda de Satanás e dos<br />

demônios (Jd 6; Ap 12.7-9).<br />

Alguns especulam que o Antigo Testamento descreve a queda de Satanás em Isaías<br />

14.12-20, mas o significado desse trecho não fica bem claro, e talvez não passe de uma<br />

repreensão poética ao "rei de Babilônia" (14-4). O "quando" e "como" dessa queda não é<br />

definido explicitamente em nenhum lugar. A verdade é que o propósito da Bíblia ao tratar<br />

de Satanás e dos demônios visa à redenção do homem, e não a especulação teológica. O<br />

enfoque recai em afirmar o propósito redentor de Deus, e o seu poder em repudiar as<br />

obras e as reivindicações de Satanás. Não existe nenhuma ênfase em obtermos<br />

conhecimentos profundos a respeito de Satanás para o derrotarmos.<br />

Precisamos de muito discernimento para derrotar o que realmente pertence ao reino<br />

das trevas, pois o próprio Satanás pode disfarçar-se em anjo de luz (2 Co 11.14). O<br />

orgulho, a idolatria, o preconceito e as fobias mais prejudiciais podem aparecer na forma<br />

de religiosidade e patriotismo, por exemplo, e serem defendidos como doutrinas e<br />

práticas nobres. A escravidão e o racismo têm sido defendidos por pessoas que alegam<br />

estar apoiando as mais nobres causas religiosas e patrióticas. Semelhantes pecados só<br />

servem para apoiar o reino das trevas. Será necessário sempre esquadrinharmos o nosso<br />

próprio coração para negar as obras do diabo e reafirmar a renovação do Espírito na<br />

Igreja.<br />

O testemunho das Escrituras oferece-nos fontes específicas de orientação para<br />

discernirmos as forças do mal e da opressão. Há um critério cristológico e uma base no<br />

Espírito de Deus para o discernimento do mal. Por exemplo: já que Deus criou a

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