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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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até mesmo Agostinho. Justino defende os dons de cura na igreja de seus dias em resposta<br />

às críticas de um certo Trifão. Irineu dá testemunho da presença dos dons de cura perto do<br />

final do século II. 85<br />

Agostinho merece menção especial, pois seu modo de entender a cessação dos dons<br />

forma o alicerce de boa parte dos pensamentos de Calvino e Warfield. Os comentários de<br />

Agostinho neste sentido têm sido grandemente exagerados. Sullivan nota que, depois de<br />

escritas aquelas observações, Agostinho retratou-se. O que mudou a opinião de Agostinho?<br />

A mesma coisa que o convencera, até certo ponto, a respeito de suas opiniões<br />

anteriores: a experiência pastoral. Sullivan escreve que, após vários anos de experiência<br />

como bispo de Hipona, Agostinho pôde testificar em sua própria diocese que, durante um<br />

período de dois anos, haviam acontecido quase setenta milagres de cura, todos<br />

testemunhados e confirmados. 86 Nas suas próprias palavras, Agostinho declara: "Se me<br />

restringisse meramente aos milagres de curas e omitisse todos os demais... e se me<br />

limitasse àqueles que ocorreram em Hipona e Calama, teria de escrever vários volumes e,<br />

mesmo assim, nada mais poderia fazer do que contar os casos que foram oficialmente<br />

registrados e atestados". Diz em seguida: "Tomei o cuidado de mandar fazer os registros,<br />

depois perceber o quanto os milagres que ocorriam em nossos próprios dias eram<br />

semelhantes aos milagres da antiguidade". 87<br />

Numa seqüência ininterrupta até o século V, portanto, temos Agostinho como<br />

testemunha de curas divinas. Parece, portanto, que os dons de curar não desapareceram<br />

com os apóstolos, apesar das opiniões de Warfield e outros. Patterson informa que alguns<br />

entendiam ser a continuação dos dons de curar "evidência da continuação da obra<br />

salvífica de Cristo". 88<br />

Ken Blue aponta várias doutrinas errôneas nos círculos evangélicos que corrompem a<br />

doutrina bíblica da cura divina. Chama-as de impedimentos teológicos à cura. 89 Em primeiro<br />

lugar, há o conceito que ele chama "santificação mediante a enfermidade". Em<br />

segundo lugar, há o determinismo divino calvinista, pelo qual Deus tem determinado<br />

todas as coisas, até mesmo os sofrimentos físicos de seus filhos obedientes. São opiniões<br />

problemáticas. Tornam absurdas as orações pelos enfermos, pois, se Deus controla<br />

diretamente todas as coisas, ninguém precisa orar. Deus nos curará se Ele desejar que<br />

tenhamos saúde. De outra forma, orar não surtiria o mínimo efeito. Muitas vezes, este<br />

ponto de vista revela-se inconscientemente ao recair pesada ênfase à expressão: "Se for<br />

da tua vontade, Senhor!" Frequentemente, não são orações de submissão à vontade de<br />

Deus, mas confissões de dúvida quanto à sobrenatural intervenção de Deus na vida do<br />

enfermo para restaurar-lhe a saúde. Decididamente, a vontade de Deus está em primeiro<br />

lugar. Todavia, conforme já mencionamos, existem poucas evidências (ou talvez nenhuma)<br />

de que Deus deliberadamente escolha uma experiência de sofrimento para os<br />

seus filhos. A única exceção talvez seja o crente que estiver andando em desobediência,<br />

ou possivelmente alguém como Jó ou Paulo, necessitado de aprender uma verdade<br />

específica. Vale a pena mencionar que Jó finalmente chegou a entender corretamente as<br />

coisas (Jó 42.1-6).<br />

A vontade de Deus, normalmente, é que o crente goze de boa saúde. Não se quer dizer<br />

com isso que os crentes nunca ficam doentes. Vivemos em um mundo caído. A<br />

enfermidade não significa que somos exemplares lastimáveis , do Cristianismo. O crente<br />

pode confiar em Deus para suprir as suas necessidades básicas, sendo uma destas a saúde.<br />

Deus pode usar à enfermidade em nossa vida? Sem dúvida, mas Ele se revelou no<br />

ministério de Jesus Cristo como o Deus da cura e da restauração.<br />

Outro empecilho à cura bíblica é aquele que Blue chama fórmula da fé, que não se<br />

apoia no poder e desejo divinos de curar, mas na fé e confissão humanas. Ressalta que "o<br />

otimismo norte-americano do 'eu-posso' uniu-se ao fundamentalismo cristão para gerar

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