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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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Em João 8.58, temos outro testemunho poderoso da divindade de Cristo. Jesus<br />

assevera, a respeito de si mesmo, uma existência contínua como a do Pai. "EU SOU" é a<br />

bem conhecida revelação que Deus fez de si mesmo a Moisés na sarça ardente (Ex 3.14).<br />

Ao dizer: "Eu sou", Jesus estava colocando à disposição o conhecimento da sua<br />

divindade, para quem quisesse crer.<br />

Paulo também oferece um testemunho claro da divindade de Jesus: "Haja em vós o<br />

mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus,<br />

não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma<br />

de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.5-7). O texto grego emprega uma<br />

linguagem muito enfática. O particípio huparchõn é mais forte que eimi, além de se<br />

constituir em uma declaração dramática do estado da existência de Cristo. A declaração<br />

hos en morphê theou huparchõn (v. 6a) deve ser interpretada como "que, existindo em<br />

forma de Deus". A declaração einai isa theõ (v. 6b) deve ser interpretada como "ser igual<br />

a Deus". Paulo nos informa aqui a existência de Jesus em um estado de igualdade com<br />

Deus. Mesmo assim, Ele não ficou agarrado a esse estado, mas abriu mão dele,<br />

tornando-se um servo e morrendo na cruz por nós.<br />

As informações do Novo Testamento a respeito desse assunto levam-nos a reconhecer<br />

que Jesus não deixou de ser Deus durante a encarnação. Pelo contrário, abriu mão apenas<br />

do exercício independente dos atributos divinos. 66 Ele ainda era plena Deidade no seu<br />

próprio ser, mas cumpriu o que parece ter sido imposto pela encarnação: limitações t<br />

humanas reais, não artificiais.<br />

A despeito dessas nítidas declarações bíblicas da divindade de Jesus, a erudição<br />

crítica anti-sobrenatural tem sido muito relutante em aceitar o conceito canónico da<br />

divindade de Jesus. Alguns estudiosos alegam detectar um desenvolvimento da<br />

cristologia na história da Igreja Primitiva, sendo que a Divindade, na opinião<br />

encarnacionista, fica no fim de um processo de reflexão apostólica e eclesiástica a<br />

respeito de Jesus, ao invés de existir desde o princípio e no decurso da história.<br />

A opinião de John Knox representa a posição sustentada por alguns, de que a<br />

cristologia passou de um adocionismo primitivo para o kenoticismo, e daí para o<br />

encarnacionismo. 67 O adocionismo primitivo declara que Jesus foi adotado pelo Pai como<br />

Filho, sem nenhuma consideração da preexistência ou esvaziamento de Jesus. 68 O<br />

kenoticismo significa, conforme ensina Paulo em Filipenses 2, que Jesus se esvaziou de<br />

sua glória celeste, visando os propósitos da salvação, não necessariamente mediante a<br />

encarnação. 69 A suposta terceira etapa desse desenvolvimento é o encarnacionismo, no<br />

qual o Filho preexistente torna-se homem ao assumir a carne humana. 70<br />

C. F. D. Moule afirma, no entanto, que o encarnacionismo está presente na totalidade<br />

do Novo Testamento e que Jesus cumpriu a sua divindade por meio da humilhação. 71<br />

Dizendo assim, Moule reduz a aguda nitidez dos conceitos levantados por Knox e outros.<br />

Mas parece apropriado, à luz dos evangelhos sinóticos, observar que a divindade de Jesus<br />

está presente em todas as correntes literárias do Novo Testamento, embora seja mais<br />

marcante nos escritos de Paulo e de João.<br />

Claramente, a Bíblia apresenta amplas evidências de suas afirmações sobre a<br />

humanidade e a divindade de Jesus. Falta, agora, estabelecer como essas duas naturezas<br />

podem coexistir em uma só Pessoa.<br />

O Concílio de Calcedônia, que se reuniu em 451 d.C, é considerado definitivo na<br />

história da cristologia. Sendo o ponto culminante da luta contra uma longa fileira de<br />

heresias cristológicas, declarou que a fé ortodoxa no Senhor Jesus Cristo focaliza-se nas<br />

suas duas naturezas, a divina e a humana, unidas na sua Pessoa única.<br />

O Concílio de Calcedônia tem um contexto histórico. A separação das naturezas de<br />

Jesus, proposta por Nestório, havia sido repudiada pelo Concílio de Éfeso, em 431 d.C. A<br />

harmonização entre as duas naturezas, proposta por Eutíquio, foi refutada em<br />

Calcedônia. Nesse clima de controvérsia teológica, dois escritos tiveram profunda

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