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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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desobedientes. Para harmonizar tal suposição com o ensino bíblico de que os cristãos<br />

pertencem a Cristo e que são dirigidos primariamente pelo Espírito de Deus (Rm 8.9-17),<br />

uma dicotomia antibíblica é estabelecida entre o corpo e a alma de modo que Deus acaba<br />

dominando a alma ao passo que os demônios controlam o corpo. 69 Mas a Bíblia ensina<br />

que uma lealdade tão radicalmente dividida é uma impossibilidade para a pessoa de fé<br />

genuína (Mt 7.15-20; 1 Co 10.21; Tg 3.11-12; 1 Jo 4.19-20).<br />

A glorificação dos demônios no mundo cristão tem seu paralelo numa tendência<br />

semelhante na cultura. A humanidade sempre sentiu certo fascínio pelas coisas sinistras e<br />

demoníacas. Maxilmilian Rudwin declarou, por exemplo, que a figura de Satanás<br />

"avulta-se amplamente na literatura". Acrescenta: "Seria realmente triste a situação da<br />

literatura sem o diabo." 70 A história das práticas ocultistas tem se alimentado do fascínio<br />

que a humanidade sente pelos demônios. E até mesmo a ascensão do pensamento<br />

científico moderno tem servido quase nada para reduzir tal fascínio.<br />

Na segunda metade do século XX, registrou-se um renovado interesse pelos demônios<br />

e pelo ocultismo. A indústria do cinema de terror ficou cada vez mais fascinada pelos<br />

demônios e pelos consequentes lucros financeiros. Filmes tais como O Exorcista e<br />

Poltergeist buscam ressaltar a incapacidade da ciência e da Igreja em lidar com os<br />

espíritos, malignos. Apresentam histórias nas quais elementos demoníacos, muitas vezes<br />

confundidos com as almas dos entes queridos, dominam o fluxo dos eventos. Em tais<br />

conjecturas, a graça de Deus está ausente, ou mostra-se débil. Até mesmo o final "feliz"<br />

surpreende mais que as vitórias demoníacas que lhe antecederam.<br />

Por certo, semelhante fascínio pelo demonismo não é saudável nem bíblico. A fixação<br />

que os discípulos de Jesus sentiram com a sua autoridade sobre os demônios foi corrigida.<br />

O Senhor os exortou a se regozijarem" antes de mais nada pelo fato de haverem sido<br />

escolhidos pessoalmente por Deus (Lc 10.17-20).<br />

A oposição de Satanás ao Evangelho somente pode ser entendida à luz do próprio<br />

Evangelho. A verdadeira profundidade do mal somente há de ser compreendida à luz da<br />

profundidade da graça de Deus à qual o mal se opõe, procurando destruí-la. A verdadeira<br />

tragédia das trevas apenas pode ser entendida no contexto das glórias da luz divina. A<br />

ênfase do Novo Testamento, portanto, recai sobre a glória de Deus e a vida com Deus, e<br />

não sobre as tentativas do inimigo de se opor a elas.<br />

Entre os cristãos, a tendência de enfatizar o papel de Satanás tem até mesmo levado a<br />

uma legitimização de seu papel de oponente de Deus, como se o adversário tivesse o<br />

direito legal sobre pessoas e governos. Enfim, como se a sua posição de "deus da presente<br />

era" devesse ser respeitada até mesmo pelo Altíssimo!<br />

De modo contrário àquilo que alguns pensam, não há em Judas 9 nenhum respeito por<br />

Satanás quando o anjo hesitou em lançar contra ele acusação caluniadora. O arcanjo<br />

Miguel refreou qualquer acusação baseada na sua própria autoridade, mas disse: "O<br />

Senhor te repreenda". Isso significa que qualquer rejeição das reivindicações enganosas<br />

de Satanás somente poderá vir da autoridade de Deus e da sua graça, e não da sabedoria<br />

ou autoridade que geramos em nós mesmos.<br />

Na realidade, uma noção dos direitos satânicos era apoiada pela teoria do resgate na<br />

Expiação, defendida por certos teólogos latinos antigos e medievais, no Ocidente; e por<br />

Orígenes, no Oriente. Essa teoria supunha que Satanás tinha o direito de governar e<br />

oprimir a humanidade por causa da rebelião humana contra Deus. Cristo, então, foi<br />

enviado para pagar a Satanás um resgate pela libertação da raça humana.<br />

A teoria do resgate, porém, elimina desde o início qualquer oposição real entre Deus e<br />

Satanás. Fica pressuposta a aceitação por Deus da posição e do papel de Satanás, e a<br />

disposição divina de se entender com o adversário segundo as condições impostas por<br />

este. A Satanás é concedido ter sua própria posição legítima à parte do plano redentor de<br />

Deus, posição esta que Deus precisa respeitar no seu esforço de redimir a humanidade!

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