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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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trás", "voltar") e nicham ("arrepender-se", "consolar"). Shuv ocorre mais de cem vezes no<br />

sentido teológico, seja quanto ao desviar-se de Deus (1 Sm 15.11; Jr 3.19), seja no sentido<br />

de voltar para Deus Q r 3.7; Os 6.1). A pessoa também pode desviar-se do bem (Ez 18.24,<br />

26) ou desviar-se do mal (Is 59.20; Ez 3.19), isto é, arrepender-se. O verbo nicham tem<br />

um aspecto emocional que não fica evidente em shuv; mas ambas as palavras transmitem<br />

a ideia do arrependimento.<br />

O Novo Testamento emprega epistrephõ no sentido de "voltar-se" para Deus (At<br />

15.19; 2 Co 3.16) e metanoeõ/ metanoia para a idéia de "arrependimento" (At 2.38;<br />

17.30; 20.21; Rm 2.4). Utiliza-se de metanoeõ para expressar o significado de shuv, que<br />

indica uma ênfase à mente e à vontade. Mas também é certo que metanoia, no Novo<br />

Testamento, é mais que uma mudança intelectual. Ressalta o fato de uma reviravolta da<br />

pessoa inteira, que passa a operar uma mudança fundamental de atitudes básicas.<br />

Embora o arrependimento por si só não possa nos salvar, é impossível ler o Novo<br />

Testamento sem tomar consciência da ênfase deste sobre aquele. Deus "anuncia agora a<br />

todos os homens, em todo lugar, que se arrependam" (At 17.30). A mensagem inicial de<br />

João Batista (Mt 3.2), de Jesus (Mt 4.17) e dos apóstolos (At 2.38) era<br />

"Arrependei-vos!" 85 Todos devem arrepender-se, porque todos pecaram e destituídos<br />

estão da glória de Deus (Rm 3.23).<br />

Embora o arrependimento envolva as emoções e o intelecto, é a vontade que está<br />

mais profundamente envolvida. Quanto a isso, basta citarmos como exemplos os dois<br />

Herodes. O evangelho de Marcos apresenta o enigma de Herodes Antipas, um déspota<br />

imoral que encarcerou João Batista por ter este denunciado o casamento com a esposa de<br />

seu irmão Filipe, mas ao mesmo tempo "Herodes temia a João, sabendo que era varão<br />

justo e santo" (Mc 6.20). Segundo parece, Herodes acreditava em algum tipo de<br />

ressurreição (6.16). Portanto, possuía algum entendimento teológico. Dificilmente<br />

poderíamos imaginar que João Batista não lhe tenha proporcionado uma oportunidade de<br />

se arrepender.<br />

Paulo confrontou Herodes Agripa II com a própria crença do rei nas declarações<br />

proféticas a respeito do Messias, mas o rei não quis ser persuadido a tornar-se cristão (At<br />

26.28). Não quis arrepender-se, embora não negasse a veracidade do que Paulo lhe dizia a<br />

respeito de Cristo. Todos nós precisamos dizer, assim como o filho pródigo:<br />

"Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai" (Lc 15.18). A conversão subentende "voltar-se<br />

contra" o pecado, mas igualmente "voltar-se para" Deus. Embora não devamos sugerir<br />

uma dicotomia absoluta entre as duas ações (pois só quem confia em Deus dá o passo do<br />

arrependimento), não está fora de propósito uma distinção. Quando cremos em Deus e<br />

confiamos totalmente nEle, voltamo-nos para Ele.<br />

Entre as declarações bíblicas sobre o assunto, esta é a fundamental: "Abraão creu<br />

[heb. 'aman] no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça" (Gn 15.6). 86 Moisés ligou a<br />

rebelião e desobediência dos israelitas à sua falta de confiança no Senhor (Dt 9.23,24). A<br />

infidelidade de Israel (Jr 3.6-14) forma um nítido contraste com a fidelidade de Deus (Dt<br />

7.9; SI 89.1-8; Os 2.2,5; cf Os 2.20). A fé abrange a confiança. Podemos "depender" do<br />

Senhor ou nEle "fiar-nos" (heb. batach) com confiança. Quem assim fizer será<br />

bem-aventurado (Jr 17.7). Alegramo-nos porque podemos confiar no seu nome (SI 33.21)<br />

e no seu amor inabalável (SI 13.5). Podemos também "refugiar-nos" (heb. chasah) nEle,<br />

conceito este que afirma a fé (SI 18.30; ver também Is 57.13).<br />

No Novo Testamento, o verbo pisteuõ ("creio, confio") e o substantivo pistis ("fé")<br />

ocorrem cerca de 480 vezes. 87 Poucas vezes o substantivo reflete a ideia da fidelidade<br />

como no Antigo Testamento (por exemplo, Mt 23.23; Rm 3.3; Gl 5.22; Tt 2.10; Ap<br />

13.10). Pelo contrário, normalmente funciona como um termo técnico, usado quase<br />

exclusivamente para se referir à confiança ilimitada (com obediência e total dependência)<br />

em Deus (Rm 4.24), em Cristo (At 16.31), no Evangelho (Mc 1.15) ou no nome de Cristo<br />

(Jo 1.12). Tudo isso deixa claro que, na Bíblia, a fé não é "um salto no escuro".

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