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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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determinar com certeza as atitudes da Igreja antiga. Muitos dos argumentos usados pelas<br />

duas partes envolvidas são baseados no silêncio e na conjectura.<br />

Desde os tempos medievais, cristãos têm praticado o batismo de crianças. A prática<br />

tem sido usualmente justificada por três argumentos principais. O primeiro é a sugestão<br />

de ser o batismo de crianças o equivalente neotestamentário da circuncisão do Antigo<br />

Testamento. Nesta condição, é considerado um rito de admissão na comunidade pactuai<br />

dos crentes e concede aos batizados todos os direitos e bênçãos das promessas da<br />

aliança. 59 Embora o paralelo pareça razoável, falta-lhe apoio bíblico sólido. É certo que a<br />

Bíblia não está substituindo o batismo pela circuncisão, em Gálatas 6.12-18.<br />

O segundo argumento em apoio ao batismo infantil é o apelo aos batismos de<br />

"famílias" na Bíblia, a que Joachim Jeremias chama fórmula oikos. Por exemplo: textos<br />

como Atos 16.15 (a casa de Lídia) e 16.33 (a casa do carcereiro filipense) e 1 Coríntios<br />

1.16 (a casa de Estéfanas) significam, segundo se infere, que pelo menos algumas dessas<br />

famílias incluíam crianças pequenas entre os batizados. 60 De novo, trata-se em grande<br />

medida de um argumento do silêncio, baseado mais em conjecturas do que no que é<br />

declarado. Poderíamos inferir, com igual probabilidade, que os leitores bíblicos teriam<br />

entendido que os batismos de famílias inteiras incluíam somente os que pessoalmente<br />

haviam aceitado Cristo como Salvador, pois todos "creram" e todos "se alegraram" (At<br />

16.34).<br />

Um terceiro argumento frequentemente empregado é o do pecado original. A criança<br />

nasce com a culpa e precisa do perdão, que vem por meio do batismo. Essa ideia,<br />

entretanto, baseia-se em grande parte na teoria de que os seres humanos herdam<br />

biologicamente o pecado (por contraste ao pecado a eles imputado de modo<br />

representativo) e que o batismo tem o poder de realizar uma espécie de regeneração<br />

sacramental. No tocante à remissão do pecado original pelo batismo, Oliver Quick<br />

observa, com certa sagacidade: "Pelo menos dentro daquilo que a experiência consegue<br />

demonstrar, as tendências pecaminosas ou defeitos espirituais de uma criança batizada e<br />

de uma não batizada são bem semelhantes entre si". 61<br />

Conforme já foi sugerido, a maioria dos que sustentam ser o batismo uma ordenança,<br />

e não um sacramento, acredita que o batismo deve ser ministrado apenas aos crentes<br />

nascidos de novo. E note-se que até mesmo alguns dos teólogos não-evangélicos de maior<br />

destaque no tempos modernos, que geralmente sustentam uma teologia sacramen-talista,<br />

também têm rejeitado a prática do batismo infantil. 62 O batismo significa uma grande<br />

realidade espiritual (a salvação) que tem revolucionado a vida do crente. Mesmo assim, o<br />

símbolo em si mesmo não deve ser elevado ao nível daquela realidade superior.<br />

A CEIA DO SENHOR<br />

A segunda ordenança da Igreja é a Santa Ceia ou Santa Comunhão. Assim como o<br />

batismo, esta ordenança tem feito parte do culto cristão desde o ministério terrestre de<br />

Cristo, quando Ele próprio instituiu o rito na refeição da Páscoa, na noite em que foi<br />

traído. A Ceia do Senhor tem alguns paralelos em outras tradições religiosas (tais como a<br />

Páscoa judaica; outras religiões antigas também se valiam de refeições sacramentais para<br />

se identificar com suas deidades), mas ela vai muito além quanto ao seu significado e<br />

importância.<br />

Seguindo as instruções dadas por Jesus, os cristãos participam da Comunhão em<br />

"memória" dEle (Lc 22.19,20; 1 Co 11.24,25). O termo traduzido por "lembrança" (gr.<br />

anamnêsis) talvez não signifique exatamente o que o leitor está imaginando. Hoje,<br />

lembrar-se de alguma coisa é pensar numa ocasião passada. O modo neotestamentário de<br />

entender anamnêsis é exatamente o inverso: significava "transportar uma ação enterrada<br />

no passado, de tal maneira que não se percam a sua potência e a vitalidade originais, mas

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