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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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filosofia que estiver na moda. 77 Todos esses perigos estão presentes dentro do<br />

protestantismo liberal (modernista).<br />

A utilização do vocábulo "mito", que provém da crítica da forma, também tende a<br />

obscurecer e confundir ou até mesmo negar frontalmente a realidade do sobrenatural.<br />

Alguns, como Ernst e Marie-Luise Keller e Rudolf Bultmann, sugerem que ou<br />

desmitologizemos o sobrenatural ou reconheçamos de uma vez para sempre que essas<br />

histórias de milagres são desnecessárias. O casal Keller convoca, de modo errôneo, o<br />

apóstolo Paulo como testemunha em favor de suas opiniões. Segundo eles, Paulo "não se<br />

interessava pelos milagres físicos; não se encaixam no quadro que ele oferece do Jesus<br />

terrestre e são irrelevantes para a cristologia que ele pregava". 78<br />

É difícil imaginar uma posição teológica mais distante da verdade que a do casal<br />

Keller. A experiência da conversão de Paulo está firmemente arraigada no sobrenatural.<br />

O milagre da ressurreição é fundamental na cristologia de Paulo (ver Rm 1.4; 1 Co<br />

15.3-9,12-19). O Jesus de Paulo era decididamente uma personagem histórica que operou<br />

milagres, sofreu e morreu, que foi milagrosamente ressuscitado na história real e que<br />

agora está entronizado e exaltado à destra do Pai (ver Fp 2.6-11). Conforme salienta<br />

Wolfhart Pannenberg: "A narrativa sobre Jesus Cristo é forçosamente histórica... se é<br />

para a fé cristã continuar a existir". 79 Macquarrie declara que essa reticência quanto ao<br />

miraculoso no Novo Testamento é uma ressaca deixada pelo modernismo liberal.<br />

Ressalta que muitos estudiosos, como Bultmann, sem levar em consideração as<br />

evidências, "resolveram de antemão que, nesta era científica, não poderemos crer em<br />

milagres". Macquarrie condena explicitamente esse raciocínio, taxando-o "capcioso", e<br />

nós devemos fazer o mesmo. Os que desejam manter o nome de cristão negando a<br />

realidade do sobrenatural são meros cristãos nominais. 80<br />

Outro exemplo de pensamento errôneo existente nos círculos do protestantismo<br />

liberal é a negação da existência de coisas demoníacas. Tem havido uma inundação de<br />

publicações de teólogos cristãos nominais que negam a realidade de um Satanás pessoal e<br />

dos demônios. "Já faz muitos anos que o liberalismo cristão vem subvertendo a aceitação<br />

da Igreja à realidade de Satanás". 81<br />

Em seguida, examinaremos algumas doutrinas evangélicas errôneas no tocante à cura<br />

divina. Um dos erros mais gritantes é a crença na cessação das charismata. Tal doutrina<br />

tem sido recentemente repudiado por muitos estudiosos evangélicos, mas ainda é<br />

fortemente sustentado pela maioria dos dispensacionalistas e pelo evangelicalismo<br />

reformado do século passado. Basicamente, a teoria cessacionista prega que os dons eram<br />

apenas temporários - duraram até a formação do cânon do Novo Testamento, sendo que<br />

depois disso o Espírito Santo os suspendeu ou desapareceram com os apóstolos. Warfield<br />

é um dos proponentes desse ponto de vista. Escreve: "Esses dons... eram distintivamente<br />

a autenticação dos apóstolos. Faziam parte das credenciais dos apóstolos como agentes<br />

autorizados de Deus na fundação da Igreja". 82<br />

Estudos recentes demonstram que os dons do Espírito Santo não cessaram com o fim<br />

da era apostólica. Ronald A. N. Kydd demonstra, numa dissertação na Universidade de<br />

St. Andrews, que os dons do Espírito continuaram até o século III. A perda aparente dos<br />

dons a partir de então teve sua origem na diminuição da estima por eles: "Já não se<br />

encaixavam nas comunidades cristãs altamente organizadas, muito cultas, ricas e<br />

socialmente poderosas". 83 Os dons não haviam sido removidos da Igreja pelo Espírito<br />

Santo. Pelo contrário, foram abandonados, juntamente com muitas outras coisas, durante<br />

a chamada constantinização da Igreja. Constantino, iniciador da era da prosperidade da<br />

Igreja, tornou-se "o símbolo da grande apostasia". 84<br />

Além do autor desconhecido de Atos Apócrifos, alguns dos pais da Igreja mencionam<br />

os dons do Espírito em seus dias: Justino o Mártir, Irineu, Teodoto, Hipólito, Novaciano e<br />

V

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