17.02.2017 Views

Teologia Sistemática - Stanley Horton

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Damasco até o seu batismo". Dunn declara que Paulo não podia ser chamado cristão até<br />

ser completada a obra pelas mãos de Ananias. Finalmente, no caso dos efésios, Dunn<br />

acredita que Paulo não estava perguntando a cristãos se haviam recebido o Espírito. Pelo<br />

contrário, perguntava a discípulos que professavam fé. Dunn conclui que eles só se<br />

tornaram cristãos quando Paulo os batizou de novo e lhes impôs as mãos. Logo,<br />

provavelmente devido ao conceito sobre o que chama conversão-iniciação, Dunn conclui<br />

que Lucas não descreve nenhum incidente em que o batismo no Espírito Santo seja<br />

realmente separado da conversão. 22<br />

Bruner sustenta uma posição teológica semelhante à de Dunn: o batismo cristão é o<br />

batismo no Espírito Santo. Mas, diferentemente de Dunn, Bruner parece admitir que dois<br />

casos em Atos são excepcionais por causa da situação histórica. O primeiro é o caso do<br />

dia de Pentecostes. Os 120 tinham de esperar por causa "daquele período incomum na<br />

carreira dos apóstolos entre a ascensão de Jesus e o dom do Espírito que Ele deu à igreja<br />

no Pentecostes". Depois do Pentecostes, porém, "o batismo e o dom do Espírito Santo<br />

ficam indissoluvelmente juntos". Mas Bruner ainda reconhece como exceção outro caso<br />

depois do Pentecostes. Ele chama hiato quando os samaritanos creram e foram batizados<br />

em água, porque "Samaria foi o primeiro passo decisivo para fora e além do Judaísmo".<br />

Essa única separação entre o batismo cristão e o dom do Espírito era "uma suspensão<br />

temporária do normal", permitida por Deus a fim de que os apóstolos pudessem ser<br />

testemunhas desse passo decisivo e participar dele. Segundo Bruner, porém, para os<br />

demais casos em Atos dos Apóstolos, o batismo no Espírito Santo é inseparável do<br />

batismo cristão na água e idêntico a ele. 23<br />

Dunn e Bruner não conseguem convencer totalmente com seus argumentos. Talvez<br />

haja certo sentido - pelo menos idealmente - em Lucas entender que todas as obras do<br />

Espírito no indivíduo formavam uma unidade global. Mesmo assim, não deixa de mostrar<br />

que em alguns dos incidentes houve mesmo um lapso de tempo na experiência. Conforme<br />

já observado, tanto Dunn quanto Bruner reconhecem este fato. E Gordon Fee argumenta<br />

que Lucas descreve claramente os samaritanos como crentes em Cristo antes de o Espírito<br />

ter caído sobre eles. A verdade é que há incidentes nos relatos de Lucas em que o tempo<br />

separa as etapas da obra do Espírito na vida dos indivíduos. 24<br />

O fato de Lucas descrever com clareza incidentes em que as "partes" da experiência<br />

cristã são separadas entre si por um lapso de tempo depõe em favor da posição teológica<br />

pentecostal. Mas nem por isso os pentecostais precisam focalizar tão intensivamente a<br />

subsequência para comprovar a separabilidade e a qualidade distintiva. A subsequência<br />

enfatiza o segmento posterior no tempo ou na ordem. A separabilidade refere-se à<br />

dessemelhança quanto à natureza ou identidade. E a qualidade distintiva mostra as<br />

diferenças de caráter ou propósito, ou de ambos. Sendo assim, a subsequência não é<br />

absolutamente essencial aos conceitos da separabilidade e da qualidade distintiva. Os<br />

eventos podem ser simultâneos, porém separáveis e distintivos se forem dessemelhantes<br />

na sua natureza ou identidade. Também são distintivos se diferentes no seu caráter e/ou<br />

propósito.<br />

Pelo menos em teoria, assim pode ser o caso das experiências cristãs da justificação,<br />

regeneração, santificação e do batismo no Espírito Santo. Mesmo ocorrendo todas ao<br />

mesmo tempo, qual teólogo argumentaria não serem distintivas no seu caráter e propósito<br />

ou separáveis na sua natureza e identidade? Da mesma forma, seja qual for o<br />

relacionamento entre o batismo no Espírito Santo e as outras experiências, aquele é uma<br />

obra separável e distintiva do Espírito.<br />

Certamente os pentecostais podem reconhecer que Cornélio experimentou na mesma<br />

ocasião a regeneração e o batismo no Espírito Santo. 25 Além disso, mesmo que os 120<br />

não fossem cristãos, no sentido neotestamentário, antes do dia de Pentecostes; 26 e os<br />

efésios não passassem de meros discípulos de João antes de Paulo ter orado por eles, nos<br />

três casos as pessoas envolvidas receberam a experiência característica do batismo no<br />

Espírito Santo. 27 Assim acontece porque a subsequência não é absolutamente essencial

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!