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Teologia Sistemática - Stanley Horton

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Poder-se-ia afirmar, então, que a expressão "graça irresistível" é tecnicamente<br />

imprópria? Parece ser um oximoro, como "bondade cruel", porque a própria natureza da<br />

graça subentende que um dom gratuito é oferecido, e tal presente pode ser aceito ou<br />

rejeitado. E assim acontece, mesmo sendo o presente oferecido por um Soberano<br />

gracioso, amoroso e pessoal. E sua soberania não será ameaçada ou diminuída se<br />

recusarmos o dom gratuito. Este fato é evidente no Antigo Testamento. O Senhor diz:<br />

"Estendi as mãos todo o dia a um povo rebelde" (Is 65.2). E: "chamei, e não respondestes;<br />

falei, e não ouvistes" (Is 65.12). Os profetas deixam claro que quando o povo não acolhia<br />

bem as expressões da graça de Deus, nem por isso ficava ameaçada a sua soberania.<br />

Estêvão fustiga os seus ouvintes: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e<br />

ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais" (At<br />

7.51). Parece claro que Estêvão tinha em vista a resistência à obra do Espírito Santo, que<br />

queria levá-los a Deus. O fato de alguns deles (inclusive Saulo de Tarso) terem crido<br />

posteriormente não serve como evidência em favor da doutrina da graça irresistível. 83<br />

Além disso, necessário é dizer que, fosse impossível resistir à graça de Deus, os<br />

incrédulos pereceriam, não por não quererem corresponder, mas por não poderem. A<br />

graça de Deus não seria eficaz para eles. Neste caso, Deus pareceria mais um soberano<br />

caprichoso que brinca com os seus súditos que um Deus de amor e graça. Sua promessa:<br />

"todo aquele , que quer" seria uma brincadeira de inigualável crueldade, pois Ele é quem<br />

estaria brincando. Mas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo não brinca conosco.<br />

Quando os braços de nosso Senhor Jesus Cristo se estenderam na cruz, Ele abrangeu a<br />

todos, pois Deus ama o mundo. Deus é amor, e a própria natureza do amor subentende<br />

que ele pode ser resistido ou rejeitado. Pela sua própria natureza, o amor é vulnerável.<br />

Não lhe diminuímos a magnífica grandeza ou a soberania se cremos possível recusar seu<br />

amor e graça, que buscam atrair todas as pessoas a si mesmos. A situação é a inversa.<br />

Deus, cujo amor anseia que todos cheguem a Ele mas não os obriga irresistivelmente a vir<br />

e cujo coração fica magoado com a recusa, forçosamente é de uma grandeza que ultrapassa<br />

a nossa imaginação. 84<br />

Há somente uma resposta apropriada a tamanho amor: arrepender-nos e crer. Claro<br />

está que não podemos produzir tais ações sem a capacitação divina. Por outro lado, não<br />

são produzidas em nós sem o nosso consentimento. Evitemos as expressões extremadas<br />

do sinergismo (a "operação em conjunto") edomonergismo (a"operaçãoisolada").<br />

Omonergismo tem suas raízes no agostinianismo, e afirma que a pessoa, para ser salva,<br />

não é capaz de fazer absolutamente nada para levar a efeito a sua salvação. A conversão é<br />

uma obra que somente Deus leva a efeito. Se o pecador optar por arrepender-se e crer,<br />

Deus é o único agente ativo. Se o pecador optar por não se arrepender ou não crer, a culpa<br />

é inteiramente deste.<br />

Formas extremadas de sinergismo remontam a Pelágio, que negava a depravação<br />

essencial da humanidade. Na sua expressão evangélica moderada, entretanto, remonta a<br />

Armínio e, de modo mais expressivo, a Wesley, sendo que estes dois teólogos<br />

enfatizavam nossa capacidade de escolher livremente, mesmo nas questões que afetam o<br />

nosso destino eterno. Somos depravados; no entanto, nem mesmo os mais depravados<br />

entre nós perderam totalmente a imagem de Deus. O sinergista evangélico afirma que<br />

somente Deus salva, mas acredita que as exortações universais ao arrependimento e à fé<br />

fazem sentido apenas se pudermos, na realidade, aceitar ou rejeitar a salvação. A salvação<br />

provém inteiramente da graça de Deus, mas declarar este fato não exige que diminuamos<br />

a nossa responsabilidade quando confrontados pelo Evangelho.<br />

O ARREPENDIMENTO E A FÉ<br />

O arrependimento e a fé são os dois elementos essenciais da conversão. Envolvem<br />

uma "virada contra" (o arrependimento) e uma "virada para" (a fé). As palavras primárias,<br />

no Antigo Testamento, para expressar a ideia de arrependimento são shuv ("virar para

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