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A dieta da mente David Perlmutter

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No século XVII, o termo sprue foi introduzido na língua inglesa, vindo do<br />

ho​lan​dês sprouw, que significa diarreia crônica — um dos sintomas clássicos <strong>da</strong><br />

doença celíaca. O dr. Samuel J. Gee, pediatra inglês, foi um dos primeiros a<br />

reconhecer a importância <strong>da</strong> <strong>dieta</strong> no tratamento dos pacientes celíacos. Ele fez a<br />

primeira descrição moderna do problema numa palestra num hospital de<br />

Londres, em 1887, observando: “Se há uma forma de curar o paciente, deve ser<br />

por meio <strong>da</strong> di​e​ta”.<br />

Na época, porém, ninguém era capaz de apontar qual o ingrediente<br />

culpado. Por isso, as mu<strong>da</strong>nças de <strong>dieta</strong> recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s na busca por uma cura<br />

passavam longe do ideal. O dr. Gee, por exemplo, vetava utas e vegetais, que<br />

não representariam problema, mas autorizava fatias finas de pão torrado. Ele<br />

ficou particular<strong>mente</strong> tocado pela cura de uma criança “alimenta<strong>da</strong> com uma<br />

medi<strong>da</strong> diária dos melhores mexilhões holandeses”, mas que teve uma recaí<strong>da</strong><br />

quando acabou a tempora<strong>da</strong> de mexilhões (talvez a criança tenha voltado a<br />

comer torra<strong>da</strong>s). Nos Estados Unidos, a primeira discussão a respeito do<br />

problema foi publica<strong>da</strong> em 1908, quando o dr. Christian Herter escreveu um<br />

livro sobre crianças com doença celíaca, que ele batizou de “infantilismo<br />

intestinal”. Como outros já haviam notado, ele escreveu que aquelas crianças<br />

não se desenvolviam, e acrescentou que elas toleravam gorduras muito melhor<br />

que carboidratos. Então, em 1924, Sidney V. Haas, um pediatra americano,<br />

relatou efeitos positivos de uma <strong>dieta</strong> à base de banana (obvia<strong>mente</strong>, a causa <strong>da</strong><br />

melhora não eram as bananas, e sim o fato de a <strong>dieta</strong> de bananas não conter<br />

glú​ten).<br />

Embora seja difícil imaginar que tal <strong>dieta</strong> possa resistir ao teste do tempo,<br />

ela continuou popular até a causa real <strong>da</strong> doença celíaca ter sido determina<strong>da</strong> e<br />

confirma<strong>da</strong>. E isso levaria duas déca<strong>da</strong>s, até os anos 1940, quando o dr. Willem<br />

Karel Dicke, um pediatra holandês, encontrou a ligação com a farinha de trigo.<br />

Àquela altura já se suspeitava havia tempo dos carboidratos em geral, mas só<br />

quando uma observação de causa e efeito pôde ser feita com o trigo,<br />

especifica<strong>mente</strong>, é que se pôde ver a relação direta. E como essa descoberta foi<br />

feita? Durante a fome que grassou na Holan<strong>da</strong> em 1944, o pão e o trigo<br />

escassearam, e o dr. Dicke notou uma redução drástica <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de entre<br />

crianças afeta<strong>da</strong>s pela doença celíaca — de mais de 35% para pratica<strong>mente</strong> zero.<br />

O dr. Dicke também relatou que, assim que o trigo voltou a ser vendido, a taxa<br />

de mortali<strong>da</strong>de ascendeu aos níveis anteriores. Por fim, em 1952, uma equipe de<br />

médicos de Birmingham, na Inglaterra, <strong>da</strong> qual o dr. Dicke fazia parte, fez o elo<br />

entre a ingestão de proteínas do trigo e a doença celíaca, ao examinar amostras<br />

<strong>da</strong> mucosa intestinal de pacientes operados. A introdução <strong>da</strong> biópsia do<br />

intestino delgado, nos anos 1950 e 60, confirmou que este era o órgão alvo <strong>da</strong>

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