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A dieta da mente David Perlmutter

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doença (a rigor, devo registrar que especialistas em história questionam se as<br />

observações empíricas anteriores de Dicke na Holan<strong>da</strong> são inteira<strong>mente</strong><br />

precisas, uma vez que teria sido difícil para ele, senão impossível, registrar<br />

tamanha recaí<strong>da</strong> quando a farinha voltou ao mercado. Mas a polêmica não<br />

minimiza a importância <strong>da</strong> identificação do trigo como culpado — a intenção é<br />

ape​nas res​sal​tar que o tri​go não é o úni​co cul​pa​do).<br />

Quando, então, começou-se a notar uma correlação entre problemas<br />

ce​lí​a​cos e neu​ro​ló​gi​cos? Uma vez mais, as pis​tas le​vam mui​to mais atrás do que<br />

as pessoas se dão conta. Há mais de um século, os primeiros relatos empíricos<br />

começaram a aparecer, e ao longo do século XX diversos médicos<br />

documentaram condições neurológicas em pacientes com doença celíaca. No<br />

entanto, assim que se descobriu que esses problemas neurológicos estavam<br />

relacionados à doença celíaca, considerou-se que eles representavam uma<br />

manifestação de carências nutricionais provoca<strong>da</strong>s pelo problema intestinal. Em<br />

outras palavras, os médicos não pensaram que determinado ingrediente pudesse<br />

necessaria<strong>mente</strong> estar perturbando o sistema nervoso; apenas imaginaram que a<br />

condição celíaca propria<strong>mente</strong> dita, que impede a absorção de nutrientes e<br />

vitaminas no intestino, levasse a deficiências que desencadeavam problemas<br />

neurológicos, como <strong>da</strong>nos aos nervos e até per<strong>da</strong>s cognitivas. E estavam longe<br />

de compreender o papel dos processos inflamatórios, o que ain<strong>da</strong> não fazia<br />

parte <strong>da</strong> biblioteca do conhecimento médico. Em 1937, a revista Archives of Internal<br />

Me​di​ci​ne publicou a primeira revisão <strong>da</strong> Clínica Mayo de artigos sobre a<br />

questão neurológica nos pacientes com doença celíaca, mas nem mesmo essa<br />

pesquisa conseguiu descrever de forma precisa a sequência real de<br />

acontecimentos. Atribuiu-se o problema cerebral à “per<strong>da</strong> de eletrólitos”<br />

provoca<strong>da</strong>, principal<strong>mente</strong>, pela incapaci<strong>da</strong>de do intestino de digerir e absorver<br />

apro​pri​a​<strong>da</strong>​men​te os nu​tri​en​tes.11<br />

Para chegar a um ponto em que pudéssemos compreender e explicar<br />

completa<strong>mente</strong> o elo entre o cérebro e a sensibili<strong>da</strong>de ao glúten, ain<strong>da</strong> seriam<br />

necessários muitos avanços tecnológicos, sem contar uma compreensão maior<br />

do papel dos processos inflamatórios. Mas a guina<strong>da</strong> recente foi, de fato,<br />

espetacular. Em 2006, a Clínica Mayo, mais uma vez, publicou um relatório na<br />

revista Archives of Neurology sobre doença celíaca e per<strong>da</strong>s cognitivas, mas desta<br />

vez a conclusão foi revolucionária:12 “Existe uma possível associação entre<br />

per<strong>da</strong> cognitiva progressiva e doença celíaca, devido à relação temporal e à<br />

equência relativa<strong>mente</strong> alta de ataxia e neuropatia periférica, mais comu<strong>mente</strong><br />

associa<strong>da</strong>s à doença celíaca”. A ataxia é a incapaci<strong>da</strong>de de controlar o<br />

movimento voluntário dos músculos e manter o equilíbrio, na maior parte <strong>da</strong>s<br />

vezes como resultado de transtornos cerebrais; “neuropatia periférica” é uma

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