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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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128 Reforma política democrática<br />

porém, impunha-se o preordenamento das listas: como os candidatos estariam<br />

impedidos de arrecadar recursos, os partidos teriam dificuldades em administrar,<br />

num ambiente internamente competitivo, o financiamento das dezenas<br />

de candidaturas individuais neles abrigadas.<br />

A comissão especial de 2003 fez um bom trabalho. Tinha a prioridade certa<br />

(melhoria dos controles sobre o financiamento, uma real vulnerabilidade do<br />

sistema), ouviu muita gente, cuidou de evitar emendas constitucionais, esmerou-se<br />

num acordo transpartidário. Jamais conseguiu, porém, que a Mesa da<br />

Câmara enquadrasse institucionalmente, em público, o principal motivo da<br />

proposta, que era a melhoria do controle sobre financiamento de campanhas,<br />

de modo a pautar um debate público construtivo sobre o tema. O resultado,<br />

previsível, é que a “proposta Caiado” foi percebida como mero oportunismo<br />

de deputados que queriam garantir dinheiro para as suas campanhas e escapar<br />

à vigilância dos eleitores. Foi pessimamente maltratada na imprensa e ignorada<br />

pelos acadêmicos. Ruiu em 2007, às vésperas de ir à votação em plenário,<br />

quando a liderança do PSDB retirou seu apoio à lista fechada, avaliando que<br />

ela favoreceria o PT. Os jornais mal noticiaram, e quase ninguém percebeu.<br />

Ironicamente, tudo se deu em meio ao bombardeio midiático de um escândalo<br />

sobre o enriquecimento de Renan Calheiros. Desde então, com ou sem<br />

pressão externa, a Câmara tem continuado a pautar a reforma política a cada<br />

legislatura. Sinal de que, a despeito de percepção contrária pelo público, os deputados<br />

continuam interessados em alguma reforma. Partem, porém, sempre<br />

da estaca zero, pois nenhum acordo voltou a prosperar. A “proposta Caiado”<br />

foi um esforço sincero de se atacar um problema real e teria merecido pelo<br />

menos o destino de ser seriamente debatida.<br />

Meu juízo pessoal sobre ela é que atiraram no que viram e acertaram no<br />

que não viram. A comissão estava em busca de uma solução que melhorasse<br />

os controles sobre o financiamento de campanha. Na falta de ideia alternativa,<br />

propuseram o financiamento público exclusivo. Apenas para viabilizá-lo é<br />

que resignaram-se a propor o fechamento das listas. No entanto, enquanto o<br />

financiamento público exclusivo é uma medida sem precedentes que pudessem<br />

nos orientar quanto a consequências esperadas (potencialmente muito<br />

problemáticas), a lista preordenada é o procedimento-padrão associado ao<br />

sistema proporcional de representação e muito provavelmente já produziria,

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