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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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Nada menos que uma Constituinte! 307<br />

proibido veicular músicas com letra, discursos e imagens. A única exceção<br />

era em relação à foto do candidato, que poderia ser exibida na televisão, juntamente<br />

com seu respectivo nome, partido e a leitura de seu currículo. As<br />

eleições de 1982, realizadas na vigência da censura, do AI-5, do recente fim<br />

do sistema bipartidário Arena/MDB, conformaram um Congresso Nacional<br />

ilegítimo, com uma maioria artificial dos que sustentavam o regime militar.<br />

Este foi o Congresso Nacional que “imbuído do Poder Originário emanado<br />

do povo” decidiu que a próxima legislatura teria “Poderes Constituintes”. E<br />

Florestan denunciou todo este processo. Escreveu inúmeros artigos explicando<br />

que uma Assembleia Nacional Constituinte, para ser efetivamente soberana,<br />

deveria ser exclusiva. Seus representantes não poderiam ser os mesmos<br />

deputados e senadores eleitos para o Congresso.<br />

Anos decisivos, que projetariam suas marcas ao futuro, determinando a natureza<br />

dos confrontos que estamos enfrentando atualmente. O Brasil situava-<br />

-se ante a disjuntiva da transição conservadora ou de uma revolução democrática<br />

para superar a ditadura. Mas Florestan nos avisou:<br />

Uma Assembleia Nacional Constituinte que se curvou à prepotência do sistema de<br />

poder existente e, por sua maioria conservadora, representa não o poder originário<br />

e soberano do povo, mas os particularismos das classes privilegiadas e as ambições<br />

das nações capitalistas hegemônicas, tem muito o que aprender e o que temer<br />

diante dos ressentimentos e frustrações da massa subalterna dos cidadãos. Ambos,<br />

ressentimentos e frustrações, acarretam violência e agressão. Seria melhor receber<br />

o recado e mudar o estilo de produção constitucional. Há grosserias que são detestáveis,<br />

mas possuem raízes históricas pelas quais passado e presente se ligam à<br />

construção do futuro. E a nação, nesses estratos, só quer socialmente uma coisa:<br />

uma revolução democrática irreversível. (Fernandes, 1986) 1<br />

O resultado foi uma constituição que, apesar de conter inegáveis avanços<br />

sociais, resultantes da intensa mobilização popular daqueles anos, manteve<br />

integralmente o mesmo sistema político herdado da ditadura. O privilégio de<br />

candidaturas pessoais em detrimento de propostas políticas, o fortalecimento<br />

crescente do financiamento privado dos grandes grupos econômicos, meca-<br />

1<br />

FERNANDES, Florestan. Constituição e Revolução. Folha de S.Paulo, 23/01/1986.

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