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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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Desconcentrar o sistema, concentrando prerrogativas 135<br />

Isto se transportaria para as listas preordenadas? Improvável. A celebridade<br />

de grande sucesso eleitoral costuma dar, no máximo, por volta de 5% dos votos.<br />

No contexto das centenas de candidaturas individuais da lista aberta, isso<br />

é muita coisa. Num distrito com mais de vinte cadeiras, já será mais do que o<br />

necessário para atingir o quociente eleitoral e poderá até mesmo eleger outros<br />

candidatos consigo. Já no contexto de uma disputa entre uma dúzia de chapas<br />

preordenadas, é mais difícil saber o que fazer com a tal celebridade. Se ela for<br />

para o topo da lista, a eventual rejeição ao recurso oportunista a uma pessoa<br />

famosa, até então desvinculada do partido, vai tirar votos da chapa; se ela for<br />

para o miolo, seu peso desaparece, a menos que ela se torne uma propagandista<br />

de sucesso da própria plataforma partidária, mostrando a seus simpatizantes<br />

que vale a pena eleger a turma que está antes dela na lista.<br />

Em 2010, por exemplo, o comediante Tiririca ajudou a reeleger o establishment<br />

da Câmara, membros da sua coligação, enquanto dizia que “pior<br />

que tá não fica”. Esquizofrênico – e, sobretudo, explorável pelos adversários<br />

durante a campanha se a lista fosse preordenada. Isso é muito importante: a<br />

campanha é diferente, com lista fechada e lista aberta. Pode até ser interessante<br />

para um partido pequeno, sem eleitorado cativo, que vá festejar a obtenção<br />

de 2 ou 3% das cadeiras, mas frequentemente a rejeição produzida pela polêmica<br />

em torno da candidatura excêntrica pode também custar muitos votos,<br />

sobretudo, para um partido maior. Ou seja, diferente de hoje, sob a lista preordenada,<br />

a celebridade comportaria risco. De resto, a celebridade em si não<br />

é o problema: se um partido, em convenção, opta por alugar sua identidade<br />

a uma celebridade, esta celebridade atravessa o fogo cruzado durante a campanha<br />

e prevalece do outro lado, parabéns para ela, isso é apenas democracia.<br />

Mas nosso problema hoje é que o recurso a celebridades se converteu num<br />

truque eficaz, decorrente do aprendizado de nossas elites políticas ao longo<br />

de décadas de convivência com o nosso sistema eleitoral. E esse truque funciona<br />

por razões, digamos, “matemáticas”, independentemente da densidade<br />

política da candidatura.<br />

E aqui, na diferença entre as campanhas sob lista aberta e as campanhas<br />

sob lista fechada, emerge uma razão pela qual a chamada “lista flexível” não é<br />

tão interessante quanto se tende a crer – especialmente no caso brasileiro, na<br />

eventualidade de abandonarmos um sistema que induz o voto no candidato

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