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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

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62 Reforma política democrática<br />

o facciosismo. Ele, contudo, deixa de estender sua argumentação à questão<br />

do mecanismo eleitoral propriamente dito, pois, se o tivesse feito, teria dificuldades<br />

em negar que a grande dimensão territorial e populacional de uma<br />

república tem outro efeito palpável sobre o direito de ser eleito representante:<br />

o favorecimento dos mais ricos. O raciocínio é simples, grandes territórios e<br />

eleitorado numeroso exigem que o candidato tenha uma máquina eficaz de<br />

comunicação para se tornar conhecido e, assim, viável eleitoralmente. Aí entra<br />

a questão do financiamento de campanha. Se ele é privado, os candidatos ricos<br />

e as corporações terão maiores chances de ganhar eleições do que os não ricos.<br />

Em seu esquema geral da evolução histórica do governo representativo,<br />

Manin identifica três fases: o parlamentarismo, a democracia de partidos e,<br />

por fim, a democracia de público, a fase que ora vivemos. No parlamentarismo,<br />

cujo modelo é a Grã-Bretanha, o representante era quase sem exceção um<br />

notável, pessoa dotada de grande distinção social em seu distrito, não raro um<br />

aristocrata. É na passagem desse modelo para a democracia de massas com<br />

partidos, resultado da extensão do sufrágio, que a influência do dinheiro é amplificada.<br />

Agora, candidatos passam a depender da organização de campanhas<br />

para informar todo o eleitorado acerca de suas propostas e plataformas. E para<br />

isso é preciso amealhar muitos recursos.<br />

Mas, afinal de contas, qual seria o grande demérito de termos os mais ricos,<br />

o mercado, exercendo mais influência sobre a política do que, por exemplo, o<br />

cidadão comum, o trabalhador? Não vivemos em uma sociedade capitalista,<br />

sob uma constituição liberal, em que interesses privados se convertem em<br />

virtudes públicas, segundo a famosa fórmula de Adam Smith, radicalizada por<br />

Bernard Mandeville (1988)? Claro que não estamos conjecturando aqui uma<br />

oligarquia clássica, onde esse conflito de classes, como bem apontou Aristóteles,<br />

era frequentemente causa de sedição, quando não da destruição da polis,<br />

mas uma solução do tipo daquela proposta pelos federalistas, que dá estabilidade<br />

às instituições ao passo que permite o exercício continuado e consistente<br />

da maior influência dos mais ricos sobre a política. Seria essa solução desejável?<br />

Se não, quais os argumentos com os quais podemos contar para rebatê-la?<br />

É esse o tópico da próxima seção, em que examinamos a opinião de<br />

John Rawls, um dos principais teóricos da justiça na democracia liberal<br />

contemporânea sobre o assunto.

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