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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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Voto facultativo: muito barulho por pouco 213<br />

pensar em direitos, como segurança pública, bem-estar, saúde ou educação,<br />

sem impostos (alguém ousaria propor impostos facultativos?). Democracias<br />

são um tipo de bem público, traduzido em liberdades civis (de opinião, crença<br />

religiosa, de ir e vir) e direitos políticos (escolher ou remover autoridades<br />

governamentais). Mas, como qualquer bem, possui custos necessários para<br />

sua provisão, sejam materiais, sejam simbólicos. Democracias são entidades<br />

relacionais, que se fortalecem quanto mais exercidas e, inversamente, definham<br />

quando negligenciadas. Como equacionar os incentivos para comportamentos<br />

free-rider presentes nesta situação, ou seja, a tentação individual para<br />

beneficiar-se dos resultados da ação coletiva (liberdades, direitos, bem-estar),<br />

sem contribuir na sua provisão?<br />

Nesse ponto, não se deve ignorar a presença de externalidades negativas ou<br />

o impacto de decisões e escolhas individuais sobre a vida de todos os demais. Se<br />

alguém decide fumar três carteiras de cigarros por dia, poder-se-ia dizer que se<br />

trata de um direito individual, como também o de trafegar sem cinto de segurança.<br />

“A vida é minha e faço dela o que eu quiser”. Mas não somente o pulmão<br />

do vizinho sofrerá as consequências, como também a ocupação de ambulâncias<br />

de emergência ou leitos hospitalares, retirando vagas de outros cidadãos, como<br />

consequências do “direito individual”. O mesmo se passa em relação à vida<br />

das democracias. Não votar é um comportamento cujas consequências não se<br />

encerram no portão de residências individuais, não afetando a vida dos demais.<br />

Altas taxas de abstenção eleitoral têm alcance sobre a estabilidade de instituições<br />

democráticas, portanto afetam a vida de todos.<br />

A comparação antes/depois da introdução do voto facultativo pode ser<br />

importante para a identificação de seus efeitos. A Venezuela atravessou os anos<br />

1960 e 1970 sem ruptura em suas instituições representativas e taxas de comparecimento<br />

eleitoral entre 80% e 90%. A partir da não obrigatoriedade do<br />

voto, nas eleições de 1998, as taxas de participação eleitoral caem para um patamar<br />

em torno aos 50% nas eleições legislativas, chegando a apenas 25% em<br />

2005. No Chile, a introdução do voto facultativo foi acompanhado por uma<br />

redução de 87% para 49% nas eleições legislativas, e 42%, nas presidenciais<br />

realizadas em 2013 2 .<br />

2<br />

IDEA Voter Turnout Database , acesso em 24 fev. 2015.

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