REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
Reforma-política-BAIXA
Reforma-política-BAIXA
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Desconcentrar o sistema, concentrando prerrogativas 131<br />
eleitores, dispomos, mas também têm condições de influenciar decisivamente<br />
a ordem das candidaturas no interior da lista, simplesmente canalizando recursos<br />
para aquelas que eles querem favorecer.<br />
A vasta maioria das candidaturas a vereador e a deputado arrecada, por<br />
meios próprios, menos do que gasta. Umas poucas são superavitárias, tipicamente<br />
candidaturas bem situadas nas redes de poder (inclusive econômico),<br />
e que estarão assim em condições de exercer patronagem em relação às demais,<br />
saldando suas dívidas ou simplesmente promovendo aliados. Há ainda<br />
os próprios partidos, que também recebem doações e, por meio de seus comitês<br />
financeiros, desfrutam de irrestrita liberdade para dispor do dinheiro<br />
arrecadado como bem lhes aprouver. E de fato dele dispõem – como mostram<br />
Horochovski & Junckes (2014) e Horochovski, Junckes, Camargo, Silva &<br />
Silva (2014). Nas eleições de 2010, dos quase 3 bilhões de reais que os partidos<br />
e candidatos declararam como receita (10% de recursos próprios, quase<br />
90% doações de pessoas físicas e jurídicas), pouco mais da metade (cerca de<br />
1,6 bilhão) “circulou” dentro do sistema, ou seja, foi gasto por entidade distinta<br />
daquela que recebeu o dinheiro, seja comitê partidário ou campanha<br />
individual (Speck & Mancuso, 2011). Como as pesquisas disponíveis apontam<br />
uma forte correlação entre gastos declarados e a votação do candidato a<br />
deputado (Samuels, 2001; Heiler, 2011), é difícil escapar à conclusão de que<br />
as direções partidárias estão, de fato, operando com uma lista oculta, cuja<br />
composição elas controlam em boa medida (e com liberdade ainda maior que<br />
numa convenção), mas sobre a qual (diferentemente da lista preordenada)<br />
elas jamais prestam contas – já que, formalmente, foi “o povo” quem decidiu.<br />
Dada a pulverização dos votos induzida pela lista aberta, a eventual rejeição<br />
da maioria do eleitorado a algum oligarca desgastado é irrelevante. Tudo o que<br />
ele precisa obter para si é cerca de 1% dos votos, que já lhe garantem um lugar<br />
entre os mais votados de sua coligação – e a livre canalização de recursos entre<br />
as campanhas praticamente assegura uma votação como essa. E cabe observar<br />
que o grande número de candidaturas, somadas à liberdade dos comitês<br />
financeiros ao dispor do dinheiro doado, resolve – pelo menos no caso das<br />
eleições brasileiras de vereadores e deputados – o problema da direção causal<br />
na correlação entre arrecadação e voto. Pois não é plausível que os doadores<br />
saibam quem vai ganhar entre centenas de candidaturas, e menos ainda que