REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
Reforma-política-BAIXA
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Desconcentrar o sistema, concentrando prerrogativas 133<br />
em carimbar dezenas de candidaturas, como se fossem um cartório, desejar<br />
boa sorte aos correligionários e depois delegar (na aparência) a decisão ao<br />
eleitorado, enquanto se encarregam, nos bastidores, de canalizar recursos decisivos<br />
para as candidaturas que querem eleger. Assim é fácil eternizar-se. Ao<br />
contrário da oligarquização tão propalada, o risco associado à lista preordenada<br />
seria o colapso de seções partidárias estaduais, incapazes de presidir pacificamente<br />
essa disputa. Elas certamente eram incapazes de fazê-lo em 1935, o<br />
que pode ajudar a explicar a lista aberta. Como me disse um colega, haveria<br />
mortes nas convenções. É certamente um risco indesejável, mas de todo modo<br />
é o oposto do que normalmente se alega.<br />
Nessas condições, um bom lugar na lista requereria trabalho partidário<br />
prévio, talvez ao longo de anos, desde a militância em idade estudantil, para<br />
estabelecer os laços de confiança na rede interna ao partido que irão favorecer<br />
um nome nas convenções. À primeira vista, pode parecer que o apelo “ao<br />
povo” contido na lista aberta seria mais desejável. Como esse apelo, porém,<br />
requer uma inevitável mediação publicitária que custa muito caro, na prática<br />
a lista aberta requer, fundamentalmente, o apoio e o endosso de bons financiadores.<br />
Nas condições brasileiras, isso envolve cair nas graças de grandes<br />
empresas ou de setores econômicos muito concentrados – ou então ser apadrinhado<br />
pelos poderosos do seu partido, de modo a assegurar os favores do<br />
comitê financeiro. Dinheiro poderá ser influente numa convenção também,<br />
claro. Usualmente se presume, a propósito, que deve ser mais barato “comprar”<br />
quinhentos convencionais que quinhentos mil eleitores. Mas o cálculo<br />
não é tão simples. Uma convenção é um ambiente competitivo, onde todos<br />
têm muito a perder ou a ganhar. Se alguém pretende chegar a uma convenção<br />
comprando o seu lugar na lista, expõe-se ao risco da contestação pública da<br />
facção que se julgar prejudicada com a manobra. Uma convenção contestada<br />
judicialmente, ou escandalosa em qualquer sentido, é um custo político que<br />
o partido inteiro carregará para a campanha. Pode até funcionar, mas o risco<br />
político é bem mais alto do que no sistema atual, em que uma provisão financeira<br />
“adequada” praticamente assegura a eleição – e os lugares, portanto, são<br />
de fato legalmente comprados, na surdina.