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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

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132 Reforma política democrática<br />

as direções partidárias simplesmente resolvessem reforçar o caixa daqueles que<br />

já iriam ganhar mesmo sem o dinheiro. A essa altura começa a ficar claro<br />

porque um sistema tão exótico chega a durar tanto tempo, foi quase sempre<br />

entre 1935 e 1994, num país tão instável como o Brasil. É difícil imaginar um<br />

arranjo melhor e mais seguro para o integrante do petit-comité da elite política.<br />

No jargão do cinema, é o “crime perfeito”: plena segurança para quem ocupa<br />

as posições de mando, sob a aparência de perfeita democracia.<br />

Comparadas a isso, por piores que sejam nossas expectativas quanto à manipulabilidade<br />

das convenções partidárias, as listas preordenadas teriam pelo<br />

menos o efeito de forçar as cúpulas partidárias a saírem a campo como tais.<br />

Junto ao eleitorado, a lista que saísse da convenção, pública desde o início,<br />

seria escrutinada pelas chapas adversárias e teria de ser defendida durante a<br />

campanha. Os partidos teriam de se expor como organização coletiva, e seus<br />

membros teriam de fazer campanha na primeira pessoa do plural (“vote em<br />

nós”). Bem ou mal, eles seriam obrigados a improvisar algum esboço de plataforma<br />

coletiva, favorecendo assim as perspectivas de controle dos mandatos a<br />

partir da atuação subsequente da bancada. Sim, da bancada, porque nos plenários<br />

são irrelevantes os parlamentares individuais. Não se trata de fantasiar<br />

a conversão dos partidos em organismos primariamente “ideológicos” (isso<br />

praticamente não existe entre os que de fato disputam o poder – e seria, no<br />

limite, indesejável), mas apenas adotar um mecanismo que os induzisse a apresentarem-se<br />

como grupamentos políticos coletivos e, portanto, vocalizadores<br />

de alguma plataforma. Nesse contexto, a decisão de manter no topo da lista<br />

sempre os mesmos “caciques”, décadas a fio, passa a ter custo eleitoral relevante,<br />

já que a eventual rejeição ao nome que encabeça a chapa irá subtrair votos<br />

da lista como um todo – o que se dá apenas residualmente com a lista aberta.<br />

Quanto à vida dos partidos, a adoção da lista preordenada iria, com toda<br />

plausibilidade, intensificar os conflitos internos. As lideranças partidárias teriam<br />

de comparecer à convenção, comprometidas com certo ordenamento da<br />

chapa, negociar e acomodar interesses, aceitar o eventual desafio e a disputa<br />

interna e, caso estivessem insatisfeitas, deveriam abandonar a legenda e formar<br />

outro partido. Bastaria tornar secreto o voto nas convenções (como previa o<br />

projeto de 2003), e seu resultado se tornaria precariamente controlável. Tudo<br />

passível de escrutínio pela imprensa. Hoje, as lideranças ficam muito felizes

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