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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

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134 Reforma política democrática<br />

Poder, dinheiro e “celebridades”<br />

A candidatura viável no Brasil de hoje, em vez de requerer militância e trabalho<br />

político junto a um partido (que por sua vez será eleitoralmente examinado<br />

a cada ciclo), requer algum atributo que lhe dê visibilidade (positiva ou<br />

negativa, pouco importa) em meio ao oceano de quase mil candidaturas concorrentes,<br />

de modo a tornar-se top of mind com uma proporção suficiente do<br />

eleitorado na hora de dedilhar a maquininha. Isso usualmente significa uma<br />

de três alternativas. A primeira é que ela disponha de um “reduto” (geográfico,<br />

profissional, religioso etc.) que irá descarregar nela seus votos de maneira<br />

amplamente dominante, de modo a assegurar um lugar entre os mais votados<br />

de sua coligação. Ex-prefeitos, pastores, sindicalistas, dirigentes da OAB, policiais,<br />

médicos podem ser incluídos nessa categoria. A segunda alternativa é<br />

que eles tenham muito dinheiro. Seja dinheiro próprio, no caso de milionários,<br />

ou o dinheiro de um grande financiador, ou – como visto – as graças da<br />

cúpula partidária. Aqui incidem os efeitos de duas aberrações da legislação<br />

brasileira sobre financiamento de campanhas: a ausência de limites para o uso<br />

de recursos próprios (que significa uma carta branca para milionários comprarem<br />

seus mandatos) e o teto para doadores que, em vez de um valor nominal,<br />

corresponde a um percentual de sua renda (o que torna o financiamento privado<br />

de campanhas no Brasil um assunto exclusivo de grandes doadores).<br />

A terceira alternativa para uma candidatura viável no Brasil de hoje é que<br />

o candidato seja uma pessoa famosa – as chamadas “celebridades”. Como a<br />

familiaridade do público com elas é bem maior que com quase todos os seus<br />

concorrentes, isso lhes assegura uma saliência que frequentemente será suficiente<br />

não só para elegê-las, mas também para superar o quociente eleitoral e<br />

eleger consigo mais alguns companheiros de coligação. E isso nem requer que<br />

a celebridade em questão seja especialmente popular. Se ela for conhecida de<br />

40% do eleitorado e for apreciada por um quinto daqueles que a conhecem,<br />

isso lhe dá uma votação potencial de 8%. Se obtiver um quarto desse “voto<br />

potencial”, já terá 2% dos votos e estará entre os mais votados principalmente<br />

nos distritos de maior magnitude. Nunca se sabe qual será o grande sucesso da<br />

próxima eleição, mas para as coligações faz todo sentido salpicar sua lista de<br />

celebridades. Elas trazem para a coligação, quase de graça, votos que de outra<br />

maneira lhes custaria uma fortuna obter.

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