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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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148 Reforma política democrática<br />

Gostaria eu de dar ênfase a um dos dados de Nicolau: apenas 35,5% dos<br />

eleitores realmente elegem alguém. Embora esse um terço do eleitorado possa,<br />

ao final, ficar bastante satisfeito com o resultado de sua escolha, achando que<br />

seu voto surtiu efeito, o restante não interfere conscientemente no resultado<br />

da eleição. Os demais ou votam em candidatos que não se elegem, ou na legenda,<br />

ou votam em branco e nulo. Quem vota na legenda pode ajudar a eleger<br />

qualquer um, numa ordem que lhe é totalmente desconhecida de antemão;<br />

quem vota nos derrotados, ajuda os partidos a compor sua votação global e,<br />

portanto, contribui também para eleger outros candidatos. Quem vota branco<br />

ou nulo tem, paradoxalmente, maior conhecimento sobre os resultados prováveis<br />

de sua decisão: não interferirá na composição das casas legislativas naquilo<br />

que concerne à identidade dos eleitos, apenas influenciará passivamente na<br />

definição do quociente eleitoral – já que tais votos não são válidos.<br />

Portanto, é ilusória essa capacidade do eleitor de influenciar decisivamente<br />

na composição individual das casas legislativas. Nos termos de Jairo Nicolau,<br />

as evidências apresentadas [...] revelam que uma avaliação personalizada encontra<br />

dificuldades de ser implementada por duas razões. A primeira é que o número de<br />

eleitores que conseguem eleger os deputados nos quais votaram não é tão significativo;<br />

a segunda é que é reduzido o número de eleitores que se lembram em quem<br />

eles votaram para a Câmara dos Deputados na eleição anterior (Nicolau, 2002,<br />

p. 226-7).<br />

Ainda assim, há quem suponha que o eleitor é mais poderoso quando<br />

escolhe seus candidatos de forma livre, independentemente de listas preordenadas<br />

impostas por supostas oligarquias partidárias. Isto seria verdadeiro<br />

se (e apenas se) o voto desse eleitor fosse de fato contabilizado da forma que<br />

ele imagina que é – ou seja, fosse única e exclusivamente para o candidato.<br />

Todavia, contamos com um sistema de “voto transferível”: os votos dados aos<br />

candidatos não eleitos (e às legendas) são transferidos àqueles que encabeçam<br />

a lista dos mais votados dentro do partido ou coligação, elegendo-os. O que<br />

os números de Nicolau indicam é que esses cabeças-de-lista foram votados<br />

por apenas um terço dos eleitores – num eleitorado que vota em pessoas, não<br />

em partidos, na proporção de três contra um. Portanto, num eleitorado que<br />

valoriza o voto personalista, dois terços são compostos de cidadãos sem repre-

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