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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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Financiamento de campanha, mídia e liberdade política 61<br />

tantes: a eleição. Ora, a ideia de que os melhores devam ser escolhidos entre<br />

ou pelos governados para governar não pertence ao repertório da forma de<br />

governo democrática, mas sim ao da aristocracia – literalmente, em grego,<br />

governo dos melhores. Mas em sociedades que se livraram dos liames hierárquicos<br />

do Ancien Regime, dos títulos nobiliárquicos, prebendas e sinecuras,<br />

esse elemento aristocrático estava fadado a ser instrumentalizado pelo poder<br />

do dinheiro.<br />

Nos casos da Grã-Bretanha e da França pós-revolucionária, Manin mostra<br />

que critérios censitários foram introduzidos paralelamente à expansão do sufrágio,<br />

não somente para os eleitores como também, e principalmente, para os<br />

elegíveis. Nos Estados Unidos, também houve grande debate em torno da adoção<br />

desse tipo de critério restritivo dos direitos políticos, sendo que vários Estados<br />

praticavam-no de fato, sob o beneplácito dos Artigos da Confederação –<br />

a primeira constituição daquele país. Critérios de honra e nobiliárquicos eram<br />

fortemente rechaçados por todas as partes nesse debate, mas não a riqueza. No<br />

final das contas, contudo, os defensores de critérios econômicos de qualificação<br />

perderam o debate.<br />

Ainda que critérios de renda e riqueza não entrassem na regulamentação<br />

de direitos políticos para eleger e ser eleito nos Estados Unidos, a solução institucional<br />

proposta para controlar o risco de facciosismo – quando a república<br />

é capturada por partido ou facção que governa para seu próprio bem, e não<br />

para o bem comum – foi adotar distritos eleitorais populosos distribuídos em<br />

territórios de grande extensão. James Madison é bem claro acerca das virtudes<br />

dessa solução no Federalista n. 10. Como o representante tem de ser eleito por<br />

um número maior de eleitores nas repúblicas grandes, em comparação com as<br />

pequenas, radicais têm maior dificuldade de saírem vitoriosos. Traduzindo, os<br />

grandes números empurrariam a distribuição “ideológica” de eleitos para algo<br />

mais próximo de uma curva normal, garantindo assim a estabilidade do governo<br />

(Hamilton et al., 2003, p. 53). Ademais, acrescenta o autor, é mais fácil para<br />

uma facção capturar o apoio de uma república pequena ou de um Estado, mas<br />

não de uma grande república com vários Estados (Hamilton et al., 2003, p. 54).<br />

Os argumentos de Hamilton em prol do governo representativo em repúblicas<br />

extensas parecem bem adequados a proporcionar a solução por ele<br />

almejada: um governo estável que evite tanto a ditadura da maioria como

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